Viagem de Bike Estrada Real - Petrópolis (RJ) a Diamantina (MG). Verão 2017.

Mapa ER [s.d] color.

Disponível em:<www.institutoestradareal.com.br/estradareal#mapa-estrada-real. Acesso: 1º/03/2017.


VIAGEM DE BIKE ESTRADA REAL

PETRÓPOLIS (RJ) A DIAMANTINA (MG)

1ª ETAPA

 PETRÓPOLIS (RJ) A OURO PRETO (MG) 

CAMINHO NOVO

438 km

2ª ETAPA

 OURO PRETO (MG) A COCAIS (MG)

CAMINHO O SABARABUÇU

202 km

3ª ETAPA

COCAIS (MG) A DIAMANTINA (MG)

CAMINHO DOS DIAMANTES

263 km

TOTAL

903 km


1ª ETAPA

CAMINHO NOVO 438 km

PETRÓPOLIS (RJ) A OURO PRETO (MG)

CAMINHO NOVO


438 km

DATA

TRECHOS

KM

TOTAL

27/12/2016

Petrópolis (RJ) a Itaipava (RJ)

32

66

66

Itaipava (RJ) a Paraíba do Sul (RJ)

34

28/12/2016

Paraíba do Sul (RJ) a Monte Serrat (RJ)

21

69

135

M. Serrat (RJ) a Matias Barbosa (MG)

24

M. Barbosa (MG) a Juiz de Fora (MG)

24

29/12/2016

J. Fora (MG) a Ewbank da Câmara (MG)

48

68

203

E. da Câmara (MG) a Sto. Dumont (MG)

20

30/12/2016

Sto. Dumont (MG) a Ant. Carlos (MG)

56

56

259

31/12/2016

Antônio Carlos (MG) a Barbacena (MG)

13

41

300

Barbacena (MG) a Ressaquinha (MG)

28

01/01/2017

Ressaquinha (MG) a Carandaí (MG)

30

62

362

Carandaí (MG) a Queluzito (MG)

32

02/01/2017

Queluzito (MG) a C. Lafaiete (MG)

20

44

406

C. Lafaiete (MG) a Ouro Branco (MG)

24

03/01/2017

Ouro Branco (MG) a Ouro Preto (MG)

32

32

438

[...] os cofres portugueses eram como buracos negros a sugar o ouro e diamante que aflorasse na Capitania [...].

[...] A Capitania de Minas era a menina dos olhos da Coroa porque do seu ouro Portugal se sustentava.

Fonte: Ibañez, Alexandre. Marília de Dirceu : a musa, a inconfidência e a vida privada em Ouro Preto no século XVIII / Alexandre Ibañez, Staël Gontijo - Belo Horizonte : Gutenberg Editora, 2012, pp. 51- 65.

[...] a causa verdadeira da falta de ensino superior [na Colônia] estava no desejo de Portugal em manter a população na ignorância e, com ela, impedir que pleiteassem emancipação política.

Fonte: Ibañez, Alexandre. Marília de Dirceu : a musa, a inconfidência e a vida privada em Ouro Preto no século XVIII / Alexandre Ibañez, Staël Gontijo - Belo Horizonte : Gutenberg Editora, 2012, p. 67.

Em 1701, a necessidade de um caminho mais seguro e rápido, ligando Ouro Preto (antiga Vila Rica) ao Rio de Janeiro, sede da Corte e de onde o metal precioso era embarcado para Portugal, fez com que a Coroa Portuguesa ordenasse a construção de outra rota, nomeada Caminho Novo, edificada por Garcia Rodrigues Paes, filho do bandeirante Fernão Dias Paes. Foram sete anos (1698-1705) para a conclusão da obra. 

 Disponível em:< www.infoescola.com/brasil-colonia/estrada-real/>. Acesso: 1º/03/2017. 

"O Caminho Novo era a síntese de Minas. Em cinco décadas de existência, a estrada tinha sido palco de esperanças e tragédias da corrida do ouro no Brasil".  

"Por toda parte viam-se as marcas do apogeu da produção do metal precioso e também da decadência".

"As matas devastadas, a terra revolvida, as encostas escalavradas, ribeiras desviadas, tudo posto fora de lugar pela mineração." 

A [três] descrições [acima] do Caminho Novo têm como base a reconstrução histórica do cenário da Estrada Real, na segunda metade do século XVIII, feita por Sérgio Alcides na obra Estes Penhascos: Cláudio Manoel da Costa e a paisagem das Minas1753 - 1773, p.121.

Moro em Brasília (DF), de onde parti [de ônibus] no dia 25/12/2016. Cheguei a Petrópolis (RJ) às 6h 30 do dia seguinte. 

Hospedei-me no Hotel Grão Pará, defronte à antiga Rodoviária e estrategicamente localizado ao lado da Estrada Mineira, ponto de partida do Caminho Novo. Recomendo o Grão Pará. 

Hotel Grão Pará. Foto: Fernando Mendes.

Excelente estada e ótima localização.


27/12/2016

1º dia

Petrópolis (RJ) a Paraíba do Sul (RJ)

66 km

Acordei cedo e fui [a passos] ao Centro de Informações Turísticas de Petrópolis (RJ) - 278.881 habitantes. Censo IBGE 2020 - retirar o Passaporte da Estrada Real. O quiosque abriu com meia hora de atraso.

Enquanto aguardava o preenchimento/liberação do salvo-conduto, um pardal desnorteado, deu várias voltas à sala até dar outra vez com a saída, livre para continuar a voar, bem como eu, livre para iniciar minha jornada.

Do Centro de Informações Turísticas de Petrópolis (RJ), voltei ao Hotel Grão Pará, arrumei meus haveres e, pela Estrada Mineira (*), uma rua suja, escura e favelizada, dei por aberta as primeiras pedaladas para alcançar - em 21 dias - a distante Diamantina (MG), 903 quilômetros à frente.


(*) A Estrada Mineira abrigou os trilhos da Estrada de Ferro Mauá, por onde circularam os trens que deixavam o Rio de Janeiro e se destinavam a Carangola (MG), Ponte Nova (MG) e Ubá (MG). Era o chamado “Expresso Mineiro”, que partia [diariamente] da capital do Estado, pontualmente às 7h 48. 

A Estrada de Ferro Mauá, oficialmente denominada Imperial Companhia de Navegação a Vapor e Estrada de Ferro de Petrópolis, foi a primeira ferrovia a ser estabelecida no Brasil. 

Inaugurada em 30 de abril de 1854, teve seu trecho inicial ligando o Porto de Mauá a Fragoso, no Rio de Janeiro, numa extensão de 14,5 km. 

Construída pelo empreendedor brasileiro Irineu Evangelista de Sousa, o Visconde de Mauá, o trecho ferroviário seguia da estação de Guia de Pacobaíba, no atual município de Magé, até Fragoso, localidade de Inhomirim. 

A extensão até Raiz da Serra (Vila Inhomirim) se deu em 1856, quando se iniciou a subida por cremalheira para Petrópolis e Areal.

Disponível em:<http://www.ihgi.org/426732463>.

Acesso: 1º/03/2017 (com adaptações). 

Túnel da Cascatinha.

Estrada Real trecho entre Petrópolis (RJ) e Paraíba do Sul (RJ). Foto: Fernando Mendes.

À saída da galeria, segui pela Rua Quissamã, passei [às 11h] pela [antiga] Estação Ferroviária de Cascatinha e cheguei a Itaipava [11h 57], distrito de Petrópolis (RJ), também conhecida como a “Búzios Serrana”. 

Estação Ferroviária de Cascatinha.

Estrada Real trecho entre Paraíba do Sul (PB) e Juiz de Fora (MG).

Foto: Fernando Mendes.

Com inúmeros condomínios fechados e de alto padrão, pequenos shoppings, com sofisticadas lojas de grifes, Itaipava (pedra redonda, em Tupi) é frequentada por parte da sociedade carioca. 

O distrito abriga muitas pousadas com ampla infraestrutura, hotéis de alto padrão e sofisticados restaurantes. 

Parada para açaí em Corrêas, bairro de Petrópolis (RJ).

Alcancei o Castelinho de Itaipava às 12h 26 e almocei em Pedro do Rio, outro distrito de Petrópolis (RJ), que abriga a Cervejaria Itaipava.

 

Castelinho de Itaipava. Estrada Real trecho entre Petrópolis (RJ) e Paraíba do Sul (RJ).

Foto: Fernando Mendes.

Castelinho de Itaipava. Estrada Real trecho entre Petrópolis (RJ) e Paraíba do Sul (RJ).

Foto: Fernando Mendes.

7,5 quilômetros adiante, e rumando pela Rodovia RJ - 123, alcancei Secretário, outro subdistrito de Petrópolis (RJ). Eram às 14h 15.

Foto: Fernando Mendes.

De Secretário em diante, pedalei - em ascenso - por 12 quilômetros [asfalto] até o Arraial de Inconfidência, 3º distrito de Paraíba do Sul (RJ), também conhecido por Arraial de Sebollas, a antiga Vila de Santana de (*) Sebollas, atual Inconfidência, que conta com 1.200 habitantes, Cendo IBGE 2010.

 (*) A localidade de Sebollas, também conhecida como Inconfidência, guarda passagens importantes de nossa história.

 Consta que ali, com frequência, pousava Tiradentes em suas viagens ao Rio de Janeiro, tendo - naquele sítio - desenvolvido algumas amizades.

 Preso e enforcado por sua atuação na Inconfidência Mineira, o Alferes teve o corpo partido em pedaços e algumas partes ficaram expostas em lugares públicos, ao longo do trajeto por ele habitualmente percorrido, desde as Minas Gerais, para que constasse como exemplo e desestímulo a eventuais insurgentes.

 Foi assim que, uma das partes de seu corpo, o quarto superior esquerdo, foi pendurado na localidade de Sebollas.

Disponível em:< https://www.sebollas.com.br/p/historia-de-sebollas.html>.

Acesso: 1º/03/2017 (com adaptações).

Disponível em:< https://www.sebollas.com.br/p/historia-de-sebollas.html>.

Acesso: 1º/03/2017.

No início da tarde de 21 de abril de 1792, retirado da forca, o seu corpo foi entregue a soldados tidos como hábeis na arte de esquartejar. Dividiram o cadáver de acordo com o decidido na sentença, as partes foram colocadas em sacos de couro com suficiente quantidade de sal.

Foram chamados tropeiros a fim de fazer o transporte das peças para o sítio das Sebollas e para Minas. A viagem durou cerca de 20 dias, o dobro do tempo normal, pois eles tinham que providenciar a entrega dos restos ao longo do caminho para serem expostos.

O sítio [das Sebollas] foi o primeiro local a receber 1/4 do corpo de Tiradentes e a pendurá-lo no alto do poste; o segundo quarto foi levantado no Arraial da Igreja (atual Barbacena); o terceiro, entregue na Estalagem da Varginha, situada a seis quilômetros de Conselheiro Lafaiete e o último quarto foi pendurado no sítio das Bandeiras, próximo a Cachoeira do Campo. 

Coube a Vila Rica (Atual Ouro Preto) a cabeça que, guardada por sentinelas, ficou expostas por dias.

Fonte: Ibañez, Alexandre. Marília de Dirceu : a musa, a inconfidência e a vida privada em Ouro Preto no século XVIII / Alexandre Ibañez, Staël Gontijo - Belo Horizonte : Gutenberg Editora, 2012, p. 131-132.

Estrada Real trecho entre Petrópolis (RJ) e Paraíba do Sul (RJ).

Chegada a Inconfidência (RJ). Foto: Fernando Mendes.

Visitei o Museu Sacro de Tiradentes, uma pequena casa na qual estão guardadas as relíquias do alferes Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes (1746-1792).

Museu Sacro de Tiradentes. Foto: Fernando Mendes.

Ao demonstrar sua insatisfação com a voracidade fiscal da Coroa Portuguesa, Tiradentes APREGOAVA A NECESSIDADE DA EMANCIPAÇÃO DA CAPITANIA DE MINAS GERAIS DE PORTUGAL [E NÃO A EMANCIPAÇÃO DO BRASIL].

Esse episódio histórico ficou conhecido por Inconfidência Mineira e Tiradentes foi condenado, pela Rainha D. Maria I - a louca-, à forca e, posterior, esquartejamento.

 Inconfidência Mineira e seu caráter estritamente econômico.

Em 1763, [...] sua majestade o Rei D. José I, pai da futura Rainha D. Maria I, a louca, lançou mão de um instrumento radical para cobrar a parcela do quinto (*) não recolhida". "Era a derrama, sinônimo de coleta forçada de impostos". 

Fonte: O Tiradentes : Uma biografia de Joaquim José da Silva Xavier / Lucas Figueiredo - 1ª ed -  São Paulo : Companhia das Letras, 2018, p. 51.


(*) O termo quinto não significou necessariamente a quinta parte (1/5) ou 20% da produção de ouro. Na verdade, o quinto assumiu o significado de quota devida sobre o ouro, podendo não corresponder ao limite de 20%, ou seja, o quinto ficou sendo a denominação para qualquer forma de encargo tributário destinado especificamente às explorações auríferas.

Fonte: Ibañez, Alexandre. Marília de Dirceu : a musa, a inconfidência e a vida privada em Ouro Preto no século XVIII / Alexandre Ibañez, Staël Gontijo - Belo Horizonte : Gutenberg Editora, 2012, p.61.

“Os meios utilizados, na prática da derrama, iam de pressão à violência física”. 

“Nas ruas, nas estalagens, nos ranchos à beira das estradas, o assunto era a derrama”. 

“A indignação transbordou e os conjurados se organizaram”, escreveu Lucas Figueiredo na Obra Boa ventura! 

A Corrida do Ouro no Brasil. Rio de Janeiro : Record, 2011, p. 294. 

Escrito pelo brasilianista (estrangeiro especializado em assuntos brasileiros) Kenneth Maxwell, a brilhante obra A Devassa da Devassa desvelou (pôs à vista) os mitos que cercavam a Inconfidência Mineira e revelou seu caráter profundamente econômico. Ainda hoje, a obra é a principal referência sobre o tema. 

Disponível em:<https://docero.com.br/doc/xxsn8>. Acesso: 30/06/2014.

 Naquele momento [1789] as principais referências dos conspiradores (ou conjurados – incluindo Tiradentes) NÃO eram (*) D. Maria I e seus ministros estrábicos, mas SIM os iluministas da Europa, os revolucionários franceses, prestes a derrubar a monarquia de Luís XVI, e os libertadores da América do Norte que, treze anos antes [1776], conseguiram a independência dos Estados Unidos da América”.

Os conspiradores ou conjurados sonhavam mais baixo”. “Queriam apenas que a capitania (E NÃO A COLÔNIA BRASIL) se desgarrasse de Portugal”. 

“A instalação de um regime democrático NÃO ESTAVA NO HORIZONTE DOS CONJURADOS, bem como a ABOLIÇÃO DA ESCRAVATURA”.

O farol da Inconfidência Mineira não era propriamente a política, mas sim a economia”. 

“O poder e a riqueza é que estavam em jogo, não uma noção mais ampla de liberdade”.

Os inconfidentes não pensavam em fundar uma nação”. “Desejavam, tão somente, dominar os rendosos postos da burocracia estatal, eliminar os monopólios comerciais de Portugal (Pacto Colonial) e livrar-se das mordidas da Coroa (derrama e o quinto) sobre os frutos das magras minas de ouro”. 

O negócio da conspiração ou Inconfidência Mineira eram os negócios”. 

IBIDEM (termo em latim que significa "na mesma obra"), ou seja:

Lucas Figueiredo na Obra Boa ventura!

A Corrida do Ouro no Brasil. Rio de Janeiro : Record, 2011, p. 296. 

(*) Rainha Maria I, apelidada de "a Piedosa" e, posteriormente, "a Louca", foi Rainha do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves (1777 – 1815). 

Morreu em 1816, no Rio de Janeiro, durante o exílio forçado [de 13 anos] da Família Real no Brasil (1808 – 1821). 

E assim, seu filho, o Príncipe D. João VI, tornou-se Rei do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves. 

D. João VI morreu em Lisboa (1826). 

(Nota do Autor).

E foi justamente por causa dos negócios que a conjuração ou Inconfidência Mineira chegou ao fim. Um dos conspiradores (ou conjurados), Joaquim Silvério dos Reis, um dos homens mais ricos de Vila Rica (atual Ouro Preto – MG), delatou seus companheiros ao governador Luís Antonio Furtado de Mendonça, o Visconde de Barbacena.

O traidor (Silvério dos Reis) acreditava que, em troca da informação, teria suas dívidas com a Coroa perdoadas ou pelo menos aliviadas, quando da execução da derrama. Com as informações passadas por Silvério dos Reis, o governador (Visconde de Barbacena) conseguiu dissolver o movimento sem dificuldades.

Ao serem interrogados, praticamente todos os inconfidentes, à exceção de Tiradentes, negaram participação na trama, alegando desde mal-entendidos a bravatas feitas sob efeito de álcool. A maioria dos conjurados foi punida com desterro (onde se está muito a desgosto) nas colônias portuguesas na África.

Tiradentes, o ponto mais frágil da urdidura (trama), teve o fim mais cruel. Depois de amargar três anos de prisão na Ilha das Cobras - RJ, foi enforcado, decapitado e esquartejado em 21/04/1792, por determinação da Rainha Maria I, a louca.

O martírio de Tiradentes certamente ensinou algo aos mineiros, mas também à Coroa. Temendo outras revoltas, a derrama foi cancelada.

IBIDEM, pp. 296 - 7.


Entre os planos dos inconfidentes estava transferir a capital para São João del Rei, “por ser mais bem situada e farta de mantimentos”, como depôs o conjurado Domingos de Abreu Vieira; “criar uma universidade em Vila Rica”, segundo depoimento deste mesmo conjurado; “unir Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro para se terem os recursos militares e financeiros necessários, e dotar a capitania de uma costa marítima, com portos abertos à navegação”, conforme depôs Padre Carlos Corrêa de Toledo […].

[…] a revolução mineira de 1789 demonstrou o grande e irreprimível anseio do povo em sacudir o jugo lusitano que lhe embargava os passos.

Fonte: Ibañez, Alexandre. Marília de Dirceu : a musa, a inconfidência e a vida privada em Ouro Preto no século XVIII / Alexandre Ibañez, Staël Gontijo - Belo Horizonte : Gutenberg Editora, 2012, p.132.

A Inconfidência Mineira teve duração fugaz, porque no espaço de pouco menos de um ano ela foi planejada, denunciada e sufocada.

A Conjuração Mineira, que aconteceu sem armas, sem cavalaria, sem logística ou batalha, foi sumariamente exterminada pela força da lei, que viu nela uma ameaça, mesmo com as únicas armas reais que possuíam os conjurados: o intelecto e as letras, o que, bem aplicados e difundidos, tornar-se-iam perigo letal para governos autocráticos e déspotas decadentes.

IBIDEM, p.132.

A Coroa Portuguesa fez expor parte dos restos mortais do Alferes Tiradentes nessa localidade na tentativa de inibir outras conspirações contra a Coroa, principalmente no Caminho Novo da Estrada Real.

 "Depois de rodar 110 quilômetros, a comitiva parou em Cebolas, ainda em território fluminense, e cumpriu sua primeira missão: espetou um dos pedaços do corpo de Tiradentes em uma estaca bem alta e fincou-a no local de maior movimento do arraial".

"A escolha por Cebolas, feita pela Alçada, (competência de um juiz ou tribunal) não foi fortuita (impensada): aquela tinha sido uma das praças onde Joaquim exercera sua prática sediciosa (revolucionária)".  

"Nas proximidades do arraial, por exemplo, ele tentara recrutar alguns tropeiros, que fizeram rir dele".

"Terminada a tarefa, e com mais quatro partes do cadáver para desovar, a comitiva seguiu adiante".

Fonte: Figueiredo, Lucas. O Tiradentes : Uma biografia de Joaquim José da Silva Xavier/Lucas Figueiredo - 1ª ed. - São Paulo : Companhia das Letras, 2018, p. 365.

Parti do antiga Vila de Santana de Sebollas às 16h 19. Faltavam 21 quilômetros, 100% em descenso asfaltado, até Paraíba do Sul (RJ).

Às 17h atravessei Queima Sangue, bairro de Paraíba do Sul (RJ), tão desconhecido quanto Marte. Nesse pacto lugar, a vida decorre monótona e placidamente.

Queima Sangue. Foto: Fernando Mendes.

"O bairro [Queima Sangue] começou a ser criado após se tornar um ponto de parada dos tropeiros, pessoas que levavam o ouro através de muares (mulas)".  

"Quando passavam por Paraíba do Sul, fizeram de Queima-Sangue local de parada para se abrigarem e aproveitavam para cauterizar as feridas das mulas e cavalos utilizados no transporte do ouro".  

"O bairro ganhou o nome de Queima-Sangue, local no qual era queimado o sangue dos animais para cicatrização".  

"Segundo historiadores, o lugar [das cauterizações] ocorria na atual Praça Sebastiana Nunes".

Disponível em:<http://blogdequeimasangue.blogspot.com/p/historia-do-bairro.html>. Acesso: 1º/03/2017 (com adaptações). 

Às 17h 25, outro bairro [de Paraíba do Sul] com nome estranho: Fernandó.

Fernandó. Foto: Fernando Mendes.

Às 17h 45 estava em Paraíba do Sul (RJ) - 42.063 habitantes - Censo IBGE 2022, município pioneiro da Serra Fluminense, e hospedei-me no Hotel Itaoca. Recomendo.

(Ita=pedra) (Oca=casa). Casa de Pedra.

Hotel Itaoca. Foto: Fernando Mendes.

A tônica do 1º dia de viagem, ao longo dos 66 quilômetros percorridos entre Petrópolis (RJ) e Paraíba do Sul (PB), foi o calor senegalês. O trecho é muito urbano e, por extensão, deveras movimentado.

Dos quatro caminhos que constituem a Estrada Real, o Caminho Novo, que liga o Rio de Janeiro (RJ) a Ouro Preto (MG) tem, entre Petrópolis (RJ) e Paraíba do Sul (RJ), 80% do percurso asfaltado.

Foi um pedal bem tranquilo e com altimetria suave. Mais descidas do que subidas.

Diamantina (MG) a 828 quilômetros.


28/12/2016

2º dia

Paraíba do Sul (RJ) a Juiz de Fora (MG)

66 km

Paraíba do Sul (RJ). Foto: Fernando Mendes.

Saí de Paraíba do Sul (RJ), a Rainha das Águas Minerais, às 11h. Àquela hora, com o Sol quase no Zênite (Sol a pino - 12h), o calor era abrasador.

Os primeiros 25 quilômetros foram em leito natural e com piso em tom vermelho "marte". 

A estrada alterna pedaços bons e outros nem tanto. Nesse trecho existem muitas chácaras e haras bem cuidados. Ambiente bucólico regido pelos sons da natureza. Impossível ficar indiferente.

Estrada Real trecho entre Paraíba do Sul (PB) e Juiz de Fora (MG).

Foto: Fernando Mendes.

 

Estrada Real trecho entre Paraíba do Sul (PB) e Juiz de Fora (MG).

Foto: Fernando Mendes. 

Estrada Real trecho entre Paraíba do Sul (PB) e Juiz de Fora (MG).

Foto: Fernando Mendes. 

Estrada Real trecho entre Paraíba do Sul (PB) e Juiz de Fora (MG).

Foto: Fernando Mendes.  

 Pedra do Paraibuna. 

Estrada Real trecho entre Paraíba do Sul (PB) e Juiz de Fora (MG).

Foto: Fernando Mendes.

Às 15h estava no bairro de Monte Serrat, pertencente ao município de Levy Gasparian (RJ), às margens do Rio Paraibuna e aos pés da colossal da Pedra do Paraibuna, grande formação rochosa de granito. É uma das mais belas atrações turísticas e naturais da região.

Segundo dados fornecidos pelo IBGE, a pedra possui aproximadamente 890 metros de altura e, em vão livre, tem imenso paredão vertical, com cerca de 450 metros de altura. Esse monolito é o eterno vigilante da região.

Estrada Real trecho entre Paraíba do Sul (PB) e Juiz de Fora (MG).

Pedra do Paraibuna. Foto: Fernando Mendes. 

Estrada Real trecho entre Paraíba do Sul (PB) e Juiz de Fora (MG).

Rio Paraibuna. Foto: Fernando Mendes.

Outro atrativo desse bairro do município de Levy Gasparian (RJ) é a Igreja Nossa Senhora do Monte Serrat, inaugurada em 1869 por S.M.I o Senhor D. Pedro II, o segundo e último monarca do Império, tendo reinado o País ao longo de 58 anos (1831 – 1889).

Somente a Rainha Vitória, rainha do Reino Unido e Irlanda, teve um reinado mais longevo (duradouro) que D. Pedro II: 64 anos no poder, contra 58 anos de Pedro de Alcântara João Carlos Leopoldo Salvador Bibiano Francisco Xavier de Paula Leocádio Miguel Gabriel Rafael Gonzaga de Bragança - o Magnânimo - e pai das Princesas Isabel e Leopoldina e marido da italiana Teresa Cristina de Bourbon-Duas Sicílias.

Estrada Real trecho entre Paraíba do Sul (PB) e Juiz de Fora (MG). Igreja Nossa Senhora do Monte Serrat. Foto: Fernando Mendes

A partir de Monte Serrat, o Estado do Rio ficou para trás. Atravessei a ponte sobre o Rio Paraibuna. Bem-vinda Minas Gerais, município de Simão Pereira (MG).


Estrada Real trecho entre Paraíba do Sul (PB) e Juiz de Fora (MG).

Ponte sobre o Rio Paraibuna. Foto: Fernando Mendes.

Após atingir a margem esquerda do Paraibuna (Minas Gerais), atravessei perpendicularmente a linha férrea da MRS Logística e, poucos metros à frente - uns 35 talvez -, parei diante do Registro do Paraibuna, um prédio em ruínas, situado estrategicamente nos limites naturais entre Rio de Janeiro e Minas Gerais, às margens da Rodovia União e Indústria, a antiga Rio de Janeiro (RJ) a Juiz de Fora (MG).

Era parada obrigatória para o recolhimento do Quinto Real, imposto (20%) cobrado pela Coroa Portuguesa, que incidia sobre o ouro que seguia pela Estrada Real - Caminho Novo -, da antiga Vila Rica (atual Ouro Preto - MG) para a Corte (Rio de Janeiro).

O Registro do Paraibuna evitava os descaminhos do ouro nas Minas Setecentistas.

A mãe do Duque de Caxias - Mariana Cândida de Oliveira Belo - nasceu em 29 de abril de 1783, no interior desse prédio, que atualmente está em lamentável estado de conservação. 


Estrada Real trecho entre Paraíba do Sul (PB) e Juiz de Fora (MG).

Registro do Paraibuna. Foto: Fernando Mendes.

Estrada Real trecho entre Paraíba do Sul (PB) e Juiz de Fora (MG).

Registro do Paraibuna. Foto: Fernando Mendes.

Almocei, às 16h 37, em Simão Pereira (MG) - 2.947 hab. Censo IBGE 2022 - que fica 7 quilômetros à frente do Registro do Paraibuna.  

Às 18h, carimbei o passaporte em Matias Barbosa (MG) - 14.121 hab. Censo IBGE 201022 - e cheguei a Juiz de Fora (MG) - 540.284756 habitantes. Censo IBGE 2022 - junto com o Sol, que batia em retirada para o oeste e tingia tudo de vermelho, ou de laranja, conforme sua vontade.

Estrada Real trecho entre Paraíba do Sul (PB) e Juiz de Fora (MG).

Passagem por Simão Pereira (MG). Foto: Fernando Mendes.

Hospedei-me no Hotel Pepita, adjacente à Rodoviária de Juiz de Fora (MG). Estada razoável, embora a localização do Pepita seja deveras vantajosa àqueles que percorrem o Caminho Novo rumo a Ouro Preto (MG), pois a estalagem situa-se na Avenida Brasil, a saída para prosseguimento da viagem no dia seguinte.

Em Juiz de Fora (MG) está localiza a Usina Hidrelétrica de Marmelos, em operação desde 5 de setembro de 1889. Foi a primeira unidade de produção de energia elétrica da América do Sul. Atualmente é administrada pela CEMIG (Cia. Energética de Minas Gerais).

A iniciativa da construção partiu do industrial mineiro Bernardo Mascarenhas (*) (1847 - 1899), que buscou, por vários anos, uma forma mais moderna e prática de movimentar os teares de sua empresa têxtil e ampliar a produção de tecidos.

Juiz de Fora (MG). Usina Hidrelétrica de Marmelos. Foto: Fernando Mendes.

(*) Bernardo Mascarenhas (1847 - 1899) foi um empreendedor brasileiro responsável, entre outros, pela fundação da Companhia Têxtil Bernardo Mascarenhas e, juntamente com Francisco Batista de Oliveira, da Companhia Mineira de Eletricidade e da Usina Hidrelétrica de Marmelos.   

 Fonte: VAZ, Alisson Mascarenhas. Bernardo Mascarenhas: desarrumando o arrumado - um homem de negócios do século XIX.

Diamantina (MG) a 759 quilômetros.


29/12/2016

3º dia

Juiz de Fora (MG) a Santos Dumont (MG)

68 km

A saída de Juiz de Fora (MG) - às 8h 30 - foi demorada: 1 hora e 15 minutos para atravessar o perímetro urbano da maior cidade da Zona da Mata Mineira.

Segui com o Rio Paraibuna à minha direita e atento às placas que indicam Barreira do Triunfo, bairro no qual é feito o acesso à BR - 040.

Após deliciosa chávena de café expresso no Graal Sylvios, atravessei a BR - 040 e comecei a pedalar, sobre leito cascalhado, até Ewbank da Câmara (MG) - 3.875 habitantes. Censo IBGE 2022 -, ex-distrito de Santos Dumont (MG). A emancipação aconteceu em 1962.

Estrada Real trecho entre Juiz de Fora (MG) e Ewbank da Câmara (MG).

Foto: Fernando Mendes.

Estrada Real trecho entre Juiz de Fora (MG) e Ewbank da Câmara (MG).

Foto: Fernando Mendes.

Estrada Real trecho entre Juiz de Fora (MG) e Ewbank da Câmara (MG).

Foto: Fernando Mendes.

Estrada Real trecho entre Juiz de Fora (MG) e Ewbank da Câmara (MG).

Foto: Fernando Mendes.

O caminho entre Juiz de Fora (MG) e Ewbank da Câmara (MG) é paralelo à linha férrea da MRS Logística, criada em 1996, quando o governo federal transferiu à iniciativa privada, por meio de concessão e não privatização (*), a gestão do sistema ferroviário nacional. O vai e vem de enormes comboios não cessa.

  (*) Ferrovias, assim como portos, aeroporto, rodovias, entre outros, são patrimônios da união e patrimônios não podem ser privatizados, e sim concedidos à iniciativa privada, por meio de leilões na Bovespa, por prazos que variam de 25 a 30 anos, prorrogáveis ou não pelo Governo Federal. 

 (Nota do Autor). 

Estrada Real trecho entre Juiz de Fora (MG) e Ewbank da Câmara (MG).

Comboio da MRS Logística, gigantesca e interminável serpente. 

Foto: Fernando Mendes.

Nesse trecho, a Estrada Real atravessa uma região na qual há uma mescla de fazendas leiteiras e haras.

Estrada Real trecho entre Juiz de Fora (MG) e Ewbank da Câmara (MG).

Foto: Fernando Mendes.

Existem diversas marcações da Transpetro alertando acerca do Gasoduto subterrâneo que corre paralelo ao caminho.

Às 12h 35 atravessei a recôndita (desconhecida) Chapéu d´Uvas, distrito de Juiz de Fora (MG), que abriga a colossal Represa de Chapéu d´Uvas (*).

  (*) Situada a 50 quilômetros da nascente do Rio Paraibuna e a 36 quilômetros de Juiz de Fora (MG), a represa tem 12 km2 de espelho d’água, 41 m de profundidade e volume de 146 milhões m3

 O lago formado pelo barramento do curso do Rio Paraibuna tem capacidade para fornecer cinco mil litros de água por segundo. 

A obra foi concebida com as finalidades de defender Juiz de Fora das inundações, regularizar o volume do Rio Paraibuna, permitir maior aproveitamento das usinas hidrelétricas da Cemig e ser mais uma fonte de abastecimento de água para a cidade.

 Disponível em:<www.cesama.com.br/mananciais/barragem-de-chapeu-d-uvas-2>. Acesso: 1º/03/2017.

Estrada Real trecho entre Juiz de Fora (MG) e Ewbank da Câmara (MG).

Represa Chapéu d´Uvas. 

Represa [s.d] foto color. Disponível em:<www.cesama.com.br/mananciais/barragem-de-chapeu-d-uvas-2>. Acesso: 1º/03/2017. 

Estrada Real trecho entre Juiz de Fora (MG) e Ewbank da Câmara (MG).

Fotos: Fernando Mendes.

Estrada Real trecho entre Juiz de Fora (MG) e Ewbank da Câmara (MG).

 Estação Ferroviária inaugurada em 1877. Fotos: Fernando Mendes.

Às 13h 42 estava em Ewbank da Câmara (MG) a saborear delicioso almoço no Bar e Restaurante Drijair, na área central. O feijão, um néctar dos deuses. Recomendo.

Estrada Real trecho entre Ewbank da Câmara (MG). e Santos Dumont (MG).

Foto: Fernando Mendes.

Devidamente alimentado, voltei à lida do pedal para cumprir a última etapa daquele 3º dia de viagem: Ewbank da Câmara (MG) a Santos Dumont (MG).

Trecho deveras cascudo com 20 quilômetros, a maior parte em trilhas apertadas e mescladas às áreas de pastos, matas e trechos alagadiços. Em certos pontos, a trilha estreita-se à semelhança do mapa do Chile.

Estrada Real trecho entre Ewbank da Câmara (MG). e Santos Dumont (MG).

Foto: Fernando Mendes.

Estrada Real trecho entre Ewbank da Câmara (MG). e Santos Dumont (MG).

Foto: Fernando Mendes.

Aos poucos a estrada vai alargando e a chegada a Santos Dumont (MG) - 42.406 habitantes. Censo IBGE 2022 - foi tranquila. 

O Caminho desemboca na BR - 040, defronte ao Auto Posto 14 Bis. Eram 16h 08.

Chegada a Santos Dumont (MG). Foto: Fernando Mendes.

Até a área central de Santos Dumont (MG) basta seguir a Avenida 15 de Fevereiro, que muda Rua Dr. Guilherme de Castro e depois passa a ser Avenida Presidente Vargas. Ao término, dei de cara com uma réplica [em miniatura] da Torre Eiffel.

Naquele ponto fica o centro nervoso da cidade. O Passaporte foi carimbado na Banca do Zezé, Avenida Getúlio Vargas, Centro.

Hospedei-me na Pousada Villa Dumont. Excelente estada. Recomendo. Das acomodações ao café da manhã, nota máxima.

Finalizado o 3° dia de viagem. Faltavam 16 [dias] para chegar a Diamantina (MG). 

Fazia 15 anos que a cantora Cássia Eller partiu para cantar no céu.

Diamantina (MG) a 691 quilômetros.


30/12/2016

4º dia

Santos Dumont (MG) a Antônio Carlos (MG)

56 km

Disponível em: https://www.google.com.br/maps/. Acesso: 1º/03/2017.

Disponível em: https://www.google.com.br/maps/. Acesso: 1º/03/2017.

Início do pedal às 11h. De Santos Dumont (MG) a Antônio Carlos (MG), percorri 56 quilômetros, o maior trecho do Caminho Novo, majoritariamente em leito natural e dotado de escassos pontos de apoio.

Os primeiros 14 quilômetros foram pedalados [em asfalto] na Rodovia Federal BR 499, que liga Santos Dumont (MG) à pacata Cabangu (Caa - mata + bangu - escura), local do nascimento de Alberto, o Santos Dumont, em 20 de julho de 1873.

BR - 499.

Estrada Real trecho entre Santos (MG) a Antonio Carlos (MG). Foto: Fernando Mendes.

No quilômetro oito, abandonei a BR - 499 para conhecer Mantiqueira, um subdistrito de Santos Dumont (MG), cortado pela linha férrea da MRS Logística

A localidade é muito pequena e nada de restaurante ou similar que oferecesse uma refeição, àquela hora, bastante desejada.

A estação ferroviária, construída em tijolos, está em ruínas, a mesma ruína que se encontra a malha ferroviária do País.

Tirei algumas fotos e até fiz [celular] um vídeo registrando a passagem de um comboio da MRS Logística.

Estação Mantiqueira. 

Estrada Real trecho entre Santos (MG) a Antonio Carlos (MG).

Foto: Fernando Mendes.

E com o estômago clamando por víveres, voltei à BR 499 e percorri os 6,9 quilômetros finais [em asfalto] até Cabangu, localidade na qual está o Museu Casa Natal de Santos Dumont [1], ou o Museu de Cabangu, numa área de 365 mil m², que guarda espelhos d’água, cascatas, quiosques, jardins, arvoredos e passarelas.

 [1] Alberto Santos Dumont não foi o inventor do avião. (Construção mitológica). 

 Existem ao menos documentos provando que os irmãos Wright construíram aviões muito antes de Santos Dumont. [...]

A distância do principal voo do 14 – Bis foi 180 vezes menor que a do voo mais longo dos Wright em 1905. 

 Um ano antes de Santos Dumont criar o 14 – Bis, os irmãos americanos voaram cerca de cinquenta vezes, percorrendo uma distância de 39,5 quilômetros de uma só vez. [...] 

Em silêncio e secretamente Santos Dumont deve ter percebido a verdade dolorosa: o 14 – Bis não voava. No máximo, dava uns pulinhos.

 Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil / Leandro Narloch, São Paulo: Leya, 2011, pp 251 e 255.

É nesse cenário que está preservada, e aberta ao público, a casa na qual nasceu Alberto Santos Dumont (1873 – 1932), que [também] não foi o inventor do relógio de pulso,[2] como muitos acreditam. Outra construção mitológica.

[2] O Brasileiro [Santos Dumont] certamente contribuiu para o relógio de pulso voltar à moda, mas a invenção do aparelho é de muito antes. 

Relógios assim eram comuns desde os tempos de Shakespeare – a rainha Elizabeth I (1533 – 1603) tinha um. 

Em 1868, a empresa Patewk Philippe reinventou a peça, que também foi usada por militares nos campos de batalha do século XIX, como na Guerra Franco – Prussiana. 

 Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil / Leandro Narloch, São Paulo: Leya, 2011, p.252.  


Com o benefício que a distância no tempo outorga à historiografia, o ato de ser presenteado com um relógio de pulso foi modificado para o fato de ser o inventor do relógio de pulso.

A necessidade de se ter um herói (?) nacional, associada a mal contada História do Brasil, materializam o surgimento de criações mitológicas. Lamentável.

(Nota do Autor)

"Narrativas bem diferentes daquelas registradas, pela historiografia ufanista, na maioria dos livros didáticos, nos quais a versão é mais importante do que a realidade".

 "E assim vem sendo construído um País mais imaginário do que real". 

Fonte: Gomes, Laurentino em 1822 : como um homem sábio, uma princesa triste e um escocês louco por dinheiro ajudaram D. Pedro I a criar o Brasil – um país que tinha tudo para dar errado / Laurentino Gomes – Rio de Janeiro : Nova Fronteira, 2010, p. 107.

Estação Cabangu (MG).

Estrada Real trecho entre Santos (MG) a Antônio Carlos (MG). Foto: Fernando Mendes. 

Casa Natal de Santos Dumont. Fotos: Fernando Mendes.

Estrada Real trecho entre Santos (MG) a Antônio Carlos (MG).

A lanchonete do Museu Casa Natal de Santos Dumont estava fechada. Dancei no almoço. 

A Serra da Mantiqueira apareceu com seu esplendor, numa sucessão de cabeços (cume convexo e arredondado), à semelhança de ondas imóveis. Não foi possível delimitar o final.

Quando a cota do caminho chegou próximo dos 1.000 metros de altitude, as araucárias começaram a dar o tom na paisagem. 

 

Estrada Real trecho entre Santos (MG) a Antônio Carlos (MG). 

Fotos: Fernando Mendes. 

Estrada Real trecho entre Santos (MG) a Antônio Carlos (MG). 

Fotos: Fernando Mendes.

Estrada Real trecho entre Santos (MG) a Antônio Carlos (MG). 

Fotos: Fernando Mendes.

Estrada Real trecho entre Santos (MG) a Antônio Carlos (MG). 

Fotos: Fernando Mendes.

A natureza impera com os sons da passarada, das cachoeiras e dos bovinos soltos pelo caminho a mastigar, incessantemente, nacos de grama. Tudo à minha volta era um verde quieto.

Estrada Real trecho entre Santos (MG) a Antônio Carlos (MG). 

Fotos: Fernando Mendes.

Não existem pontos de apoio ao longo do trecho Cabangu a Antônio Carlos (MG), exceto um povoado, do qual não me lembro o nome, onde consegui fazer a única refeição do dia: Cebolitos com Guaraná. 

Àquela altura dos acontecimentos, não podia me dar ao luxo de recusar “finas iguarias".

Estrada Real trecho entre Santos (MG) a Antônio Carlos (MG). 

Fotos: Fernando Mendes.

Às 15h 30 voltei à Estrada Real e à lida no pedal para encarar o trecho mais cascudo daquele 30/12/20216: subir a Serra do Trovão.

Estrada Real trecho entre Santos (MG) a Antônio Carlos (MG). 

Fotos: Fernando Mendes.

Estrada Real trecho entre Santos (MG) a Antônio Carlos (MG). 

Fotos: Fernando Mendes.

Serra do Trovão. Estrada Real trecho entre Santos (MG) a Antônio Carlos (MG). 

Foto: Fernando Mendes.

O tempo mudou rapidamente. Nuvens altas e escuras, conhecidas por cumulonimbus [em latim] e acumulado de nuvens [em português], estavam na minha vertical, ou seja, sobre minha cabeça. Chegaram com vontade e a chuva não se fez esperar.

Os cumulonimbus (Cb´s), animados por fortes correntes ascendentes, haviam se transformado em montanhas com alturas consideráveis (uns 4 quilômetros ou pouco mais).

Rapidamente a base do Cb desceu. As centelhas elétricas limitaram-se a iluminar o interior dos cumulonimbus, retumbando na distância.

Tempestade espetacular, há muito esperada, após dias de uma canícula avassaladora, desabou sobre mim, arrefecendo a fornalha daquele penúltimo dia do Ano da Graça de 2016.

Foi quando lembrei de uma passagem do Romance “Equador”, de Miguel Sousa Tavares, natural do Porto, Portugal, no qual o protagonista [Luís Bernardo Valença] descreve a primeira chuva que testemunhou, em 1906, ao aportar em São Tomé e Príncipe, duas ilhotas portuguesas à deriva no Atlântico, à latitude do equador:

 uma tampa gigante abriu-se no céu logo acima de minha cabeça e, de repente, foi como se um dique se tivesse rompido. Uma chuva de pingos grossos, como bagos de uva, desabou em cascata solta, apagando todos os outros sons e os últimos sinais do Sol a morrer no horizonte”. p. 144.

Em meio a raios e trovões, subi os quatro quilômetros da Serra [do Trovão], sem maiores dificuldades e calçada com pedras dispostas de forma irregular. Impossível usar equipamento fotográfico em meio àquele dilúvio.

E a chuva começou a ceder. As centelhas se espaçaram e se tornaram distantes.

Estrada Real trecho entre Santos (MG) a Anônio Carlos (MG). 

Fotos: Fernando Mendes.

Estrada Real trecho entre Santos (MG) a Antônio Carlos (MG). 

Fotos: Fernando Mendes.

Cheguei à pacata Antônio Carlos (MG) - 11.095 habitantes. Censo IBGE 2022 - às 19h. 

Chegada à pacata Antônio Carlos (MG). Foto: Fernando Mendes.

Hospedagem na Pousada Coliseu onde encontrei com quatro ciclistas de Vitória da Conquista (BA). 

O grupo percorria o Caminho Novo na direção contrária à minha: estavam indo de Ouro Preto (MG) para o Rio de Janeiro (RJ). 

A conversa fluiu fácil e o jantar, depois de um dia sem almoço, estava uma maravilha.

Diamantina (MG) a 635 quilômetros.


31/12/2016

5º dia

Antônio Carlos (MG) a Ressaquinha (MG)

41 km



Pousada Coliseu em Antonio Carlos (MG). 

Foto: Fernando Mendes.

Estrada Real trecho entre Antonio Carlos (MG) e Ressaquinha (MG).

Foto: Fernando Mendes. Câmera no timer.

Às 10h começou o pedal do tricentésimo sexagésimo sexto - 366º - dia do Ano da Graça de 2016, ano bissexto.

Giro tranquilo, à exceção da travessia da cidade de Barbacena (MG), - 125.317 hab. Censo 2022 -, com trânsito frenético e todos parecendo apressados por conta do último dia do ano. 

Inexistem marcos da Estrada Real ao longo do perímetro urbano. O jeito foi perguntar aos nativos.

E de pergunta em pergunta, cheguei ao bairro Santo Antônio, depois de subir uma ladeira das arábias. Do alto foi possível ver, ao fundo da paisagem, a BR - 040.

Uma descida, igualmente das arábias, me levou, por meio de um bairro periférico e com asfalto esburacado, até a Lanchonete Roselanches, localizada às margens da BR - 040, km 697.

Disponível em:<https://www.google.com.br/maps. 

Acesso: 1º/03/2017 (com adaptações).

Feijoada deliciosa no almoço, reforço no fôlego para encarar os trechos seguintes: Barbacena (MG) - Alfredo Vasconcelos MG) - Ressaquinha (MG), com parcos 28 quilômetros e altimetria mesclando descensos e ascensos suaves.

  "Ninguém consegue ser subversivo após uma feijoada".

Barbosa Lima Sobrinho.

Os haras flanqueiam a Estrada Real em ambos os lados. As formações da Mantiqueira são percebidas no visual e sentidas nas suaves subidas e descidas. 

Etapa idílica aos sons da natureza. Bem diferente dos ruídos urbanos e ensurdecedores de Barbacena (MG).

Estrada Real entre Barbacena (MG) e Ressaquinha (MG). 

Foto: Fernando Mendes. 

Estrada Real entre Barbacena (MG) e Ressaquinha (MG). 

Foto: Fernando Mendes.

Às 15h 14, pedalava placidamente pela incógnita Alfredo Vasconcelos (MG) - 6.931 habitantes. Censo IBGE 2022, elevada à categoria de município após ser desmembrada de Ressaquinha (MG).

Parada rápida para reposição de água e fotos da Igreja Nossa Senhora do Rosário do Ribeirão de Alberto Dias (século XVIII - concluída em 1725). Duas torres no frontispício e cemitério na parte de trás.

Estrada Real entre Barbacena (MG) e Ressaquinha (MG). 

Igreja Nossa Senhora do Rosário do Ribeirão de Alberto Dias.

Foto: Fernando Mendes. 

Estrada Real entre Barbacena (MG) e Ressaquinha (MG). 

Igreja Nossa Senhora do Rosário do Ribeirão de Alberto Dias.

Foto: Fernando Mendes.

A chegada a Ressaquinha (MG) - 4.548 habitantes. Censo 2022 - foi tranquila e o último marco daquele trecho da Estrada Real fica em frente ao Empório da Empada, que oferece muitas opções dessa iguaria.

Estrada Real entre Barbacena (MG) e Ressaquinha (MG). 

Foto: Fernando Mendes.

Estrada Real entre Barbacena (MG) e Ressaquinha (MG). 

Foto: Fernando Mendes. 

Estrada Real entre Barbacena (MG) e Ressaquinha (MG). 

Foto: Fernando Mendes. 

Estrada Real entre Barbacena (MG) e Ressaquinha (MG). 

Foto: Fernando Mendes. 

Ressaquinha (MG). Paróquia de São José, construída em 1939.

Foto: Fernando Mendes.

A cidade é transpassada pela BR-040 e o ponto alto é a Paróquia de São José, construída em 1939.

As pinturas da igreja são de autoria do Padre Joseph Buttgens, influenciado pela arte hindu. Esse mesmo padre pintou a Catedral de Nova Déli, na Índia.

Ressaquinha (MG). Paróquia de São José, construída em 1939. Foto: Fernando Mendes.

Ressaquinha (MG). Paróquia de São José, construída em 1939. Foto: Fernando Mendes.

Dirigi-me à Pousada Estrada Real para pernoite. A proprietária me informou que o estabelecimento se encontrava fechado, pois a família estava de partida para comemorar a passagem do ano em Juiz de Fora (MG).

O jeito foi me hospedar num hotel "zero estrela", localizado no andar acima do Empório da Empada, defronte à BR - 040.

Faltavam poucas horas para o encerramento daquele 31 de dezembro do Ano da Graça de 2016 (ou 2769 A.U.C).


A.U.C, expressão em latim (ab Urbe Condita), significa "desde a fundação de Roma", ocorrida supostamente em 753 a.C.

Portanto 753 a.C + 2016 d.C = 2769 A.U.C.

(Nota do Autor).

E da varanda, defronte à antiga BR - 3, assisti, à meia-noite, à tímida queima de fogos. Mesmo não me sentindo cansado, adormeci rapidamente.

Antes de 1964, o trecho entre Rio de Janeiro e Belo Horizonte era denominado BR-3.

Viajar está entre as coisas que mais amo nesta vida. Se vivi muitas vidas, creio que passei a maioria delas viajando.

Diamantina (MG) a 594 quilômetros.


01/01/2017

6º dia

Ressaquinha (MG) a Queluzito (MG)

62 km

 

1ª foto de 2017. 

Estrada Real entre Ressaquinha (MG) e Queluzito (MG).

Pedalei os primeiros 62 quilômetros de 2017 - entre Ressaquinha (MG) e Queluzito (MG) - atravessando paisagens belíssimas. Viagem iniciada às 9h 30.

Estrada Real entre Ressaquinha (MG) e Queluzito (MG).

A Estrada Real passa sob a BR -040. Foto: Fernando Mendes.

Nos primeiros 30 quilômetros até Carandaí (MG), girei por altitudes que variaram entre 1.050 e 1.200 m.

A estrada é larga e o solo bem compactado. Pareceu-me que ninguém quis sair de casa no primeiro dia do [novo] ano. 

Estrada Real entre Ressaquinha (MG) e Queluzito (MG).

Foto: Fernando Mendes.

Estrada Real entre Ressaquinha (MG) e Queluzito (MG).

Foto: Fernando Mendes.

Estrada Real entre Ressaquinha (MG) e Queluzito (MG).

Foto: Fernando Mendes. 

Estrada Real entre Ressaquinha (MG) e Queluzito (MG).

Fotos: Fernando Mendes.

Caminhos vazios, imperava absoluto, pedalando entre fazendas leiteiras e plantações de eucaliptos. Explorava os arredores e respirava a tragos ar tão delicioso.

Somente as aves, seus piares e uma leve brisa me prestavam atenção, todavia não muita. Que deleite.


Estrada Real entre Ressaquinha (MG) e Queluzito (MG).

Fotos: Fernando Mendes.

Às 12h 30 pedalava pelo asfalto gasto e irregular nas cercanias de Carandaí (MG) - 23.044812 habitantes. Censo 2022).

Almocei na Cantina Mineira enquanto assistia à Escolinha do Professor Raimundo. Refeição saborosa e farta. Fica a dica.

Depois do repasto e sob canícula saariana, tomei a direção da saída da cidade pela Rua Professor Camargo até a esquina [virar à direita] com a Alameda Germano Nogueira, "desaguando" na BR - 040.

Atravessei-a e segui na direção BH por 1,3 quilômetro até alcançar o Posto de Pesagem e Fiscalização da ANTT, que fica no km 664.

Passados talvez uns 25 metros da placa de fundo azul, com a informação "KM 664", virei à direita, conforme indica um marco da Estrada Real - bem visível -, fincado ao lado de uma parada de ônibus.

A partir daquele ponto, o caminho se eleva em relação à BR-040, a ex-BR - 3.

.

Estrada Real entre Ressaquinha (MG) e Queluzito (MG).

Fotos: Fernando Mendes.

Estrada Real entre Ressaquinha (MG) e Queluzito (MG).

Fotos: Fernando Mendes.

Segui paralelamente à BR - 040, por caminho que se elevou e permitiu, lá do alto, - pelo menos a mim - concluir que a rodovia [BR -040] -, em muitos trechos, foi construída sobre partes do leito do Caminho Novo da Estrada Real.

Teorias à parte, o percurso Carandaí (MG) a Queluzito (MG) mescla estradão e trilhas, que passam por várias fazendas. Haja abre e fecha de porteiras.

Estrada Real entre Ressaquinha (MG) e Queluzito (MG).

Fotos: Fernando Mendes. 


Estrada Real entre Ressaquinha (MG) e Queluzito (MG).

Fotos: Fernando Mendes.

Muito gado solto pelo caminho que atravessei, sempre acompanhado por bandos de maritacas barulhentas, felizes à luz de uma tarde com céu rutilante.

E ao fundo desse cenário, o esplendor da Mantiqueira, com suas rochas graníticas refletindo a luz do Sol.

Estrada Real entre Ressaquinha (MG) e Queluzito (MG).

Fotos: Fernando Mendes. 

Estrada Real entre Ressaquinha (MG) e Queluzito (MG).

Fotos: Fernando Mendes. 

Estrada Real entre Ressaquinha (MG) e Queluzito (MG).

Fotos: Fernando Mendes. 

Estrada Real entre Ressaquinha (MG) e Queluzito (MG).

Fotos: Fernando Mendes.

Estrada Real entre Ressaquinha (MG) e Queluzito (MG).

Fotos: Fernando Mendes. 

Estrada Real entre Ressaquinha (MG) e Queluzito (MG). Fotos: Fernando Mendes.

Em Pedra do Sino, distrito de Carandaí (MG), alcançada às 15h 37, e onde se localiza a fábrica do Cimento Tupi, a Estrada Real intercepta ortogonalmente (ângulo de 90º) a BR 040. Atravessei-a, rumando para Queluzito (MG), 25 quilômetros à frente.

Fábrica do Cimento Tupi em Pedra do Sino. 

Estrada Real entre Ressaquinha (MG) e Queluzito (MG). Fotos: Fernando Mendes.

A altimetria, até então suave, começou a mostrar-se severa com um trecho de trilha bastante técnico e inclinado [para cima]. 

O primeiro pedal do ano foi sem precedentes, quando falo de Estrada Real.

Estrada Real entre Ressaquinha (MG) e Queluzito (MG). Fotos: Fernando Mendes.

Estrada Real entre Ressaquinha (MG) e Queluzito (MG). Fotos: Fernando Mendes.

Estrada Real entre Ressaquinha (MG) e Queluzito (MG). Fotos: Fernando Mendes.

Estrada Real entre Ressaquinha (MG) e Queluzito (MG). Fotos: Fernando Mendes.

Cheguei a Queluzito (MG) - 1.770 habitantes. Censo 2022 - vendo o Sol obliquamente e batendo em retirada na direção oeste.

Chegada a Queluzito (MG). Foto: Fernando Mendes.

A Lua Nova - terceiro dia - posicionada uns 45º acima do poente, deu-me as boas-vindas, lembrando o sorriso do gato da Alice no País das Maravilhas. Dia maravilhoso e pedal aos sons da natureza.

Era o primeiro dia do ano de 2017. Dia de posse dos prefeitos eleitos e reeleitos no pleito de 2016.

Queluzito (MG) tem apenas dois hotéis e ambos estavam lotados. Felizmente o proprietário de um deles (esqueci os nomes de um e de outro), com muita boa vontade, arrumou um quarto na parte de trás e minha noite foi salva.

Foi questão de saber esperar, como quase tudo na vida. Do contrário, teria feito como Bruno & Marrone: dormiria na praça.

E foi assim que passei, na recôndita Queluzito (MG), a primeira noite do Ano da Graça de 2017.

Diamantina (MG) a 532 quilômetros.


02/01/2017

7º dia

Queluzito (MG) a Ouro Branco (MG)

44 km


Penúltima etapa do Caminho Novo da Estrada Real, que liga o Rio de Janeiro (RJ) a Ouro Preto (MG).

O trecho Queluzito (MG) a Ouro Branco (MG) é curto [45 quilômetros] e quase todo asfaltado.

Início da transição da Serra da Mantiqueira para a Serra do Espinhaço. A altimetria tornou-se cascuda e encardida.

À medida que Queluzito (MG) ficava para trás, as subidas foram mostrando a cara. O ponto alto do dia ficou por conta da travessia de uma área de reflorestamento com eucaliptos, sombreada e maravilhosa. 

Estrada Real entre Queluzito (MG) e Ouro Branco (MG). Fotos: Fernando Mendes. 


Estrada Real entre Queluzito (MG) e Ouro Branco (MG). Fotos: Fernando Mendes.

O restante da etapa aconteceu em pedaços fortemente urbanizados, como a travessia de Conselheiro Lafaiete (MG) - 131.621 habitantes. Censo IBGE 2022 -, com trânsito intenso e tumultuado, à semelhança dos grandes núcleos urbanos da Índia.

Chegada a Conselheiro Lafaiete (MG). Foto: Fernando Mendes.

Entre Lafaiete (MG) e Ouro Branco (MG), a Estrada Real é sobreposta à Rodovia MG - 129, com traçado que apresenta um sobe e desce agitado. Bem-vinda Serra do Espinhaço (*).

(*) considerada a única cordilheira do Brasil, a Serra do Espinhaço tem aproximadamente 1.000 quilômetros de extensão, parte em Minas Gerais e parte na Bahia.

Possui o maior afloramento de calcário do País, jazidas de ouro, ferro, bauxita e manganês. Estima-se que sua idade geológica seja de 2,5 bilhões de anos.

Funciona como divisor de águas. A leste, todos os rios tendem ao Atlântico, enquanto que a oeste inflam o sistema hídrico do São Francisco.

A largura da Serra do Espinhaço varia de 50 a 100 quilômetros. Vales e picos são interpostos, configurando um terreno bastante acidentado.

É Reserva da Biosfera, contém muitas áreas de proteção e outras de preservação, além de reservas particulares.

Fonte: Brasília-Paraty, somando pernas para dividir impressões.
Weimar Pettengil – Brasília – Editora Thesaurus, p.90.

Chegada a Ouro Branco (MG). Foto: Fernando Mendes.

No acesso a Ouro Branco (MG) - 38.724 habitantes. Censo IBGE 2022 - localiza-se uma casa, em estilo colonial, a Fazenda Carreira (*), na qual Tiradentes, em suas perambulações pela região, ocasião na qual apregoava a necessidade de a Capitania de Minas Gerais [e não o Brasil] se livrar das garras domínio colonial português, usava-a para pernoite.

Como muitos dos monumentos históricos, de um país sem memória histórica, essa casa encontra-se abandonada. Lamentável.

  (*) A fazenda teria sido ponto de pouso e local de abastecimento. 

Diz-se que Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, se hospedou ali antes de sua prisão, daí uma de suas alcunhas “Casa Velha de Tiradentes"; 

outra versão afirma que o local era posto de arrecadação de impostos; 

a denominação teria se originado das “carreiras” que os tropeiros davam nos animais para testar a sua força e resistência.

 Disponível em:<www.iepha.mg.gov.br/index.php/programas-e-acoes/patrimonio-cultural-protegido/bens-tombados/details/1/12/bens-tombados-fazenda-carreiras>. Acesso: 1º/03/2017 (com adaptações).

Fazenda Carreira. Foto: Fernando Mendes.

Tombada pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (IEPHA/MG), em setembro de 2000, Carreiras [a Fazenda] foi construída, provavelmente, na segunda metade do século XVIII, por volta de 1775.

Localizada às margens do Caminho Novo da Estrada Real, entre Ouro Branco (MG) e Conselheiro Lafaiete (MG), trecho de grande circulação de pessoas e bens durante o período conhecido como Ciclo do Ouro em Minas Gerais.

Destinada à criação de gado e à agricultura, integrava o povoado de mesmo nome, descrito por viajantes do século XIX como uma região miserável e perigosa, provavelmente pelo período de decadência pelo qual Ouro Branco (MG) passou após o declínio da mineração.

Outra serventia da fazenda: local de criação, de venda e troca de cavalos, para aqueles que faziam a viagem da Corte (Rio de Janeiro) a Vila Rica, atual Ouro Preto (MG).

É conhecida como Fazenda Tiradentes ou Casa Velha de Tiradentes, pois passível de se crer que o Inconfidente teria pernoitado ali durante uma viagem de São João Del Rei a Vila Rica, em 1788.

Disponível em:<www.iepha.mg.gov.br/index.php/programas-e-acoes/patrimonio-cultural-protegido/bens-tombados/details/1/12/bens-tombados-fazenda-carreiras>. Acesso: 1º/03/2017.



Fazenda Carreira. Foto: Fernando Mendes.

Igreja Matriz de Santo Antônio de Ouro Branco. Fotos: Fernando Mendes. 

Igreja Matriz de Santo Antônio de Ouro Branco.  

 "De acordo com um registro no Livro nº 1 da Irmandade, a Matriz é anterior a 1717, ano de emissão de uma certidão do primeiro casamento que teria ocorrido na Igreja Matriz de Santo Antônio de Ouro Branco. 

 A parte exterior da Matriz traz as influências da reforma introduzida por Aleijadinho, estilo característico de Minas Gerais".

Disponível em:<https://www.ourobranco.mg.gov.br/detalhe-da-materia/info/matriz-de-santo-antonio---centro/6542>. Acesso: 1º/03/2017.

Ouro Branco (MG).

A Cruz de Penitência ou Martírio. Foto: Fernando Mendes.

A Cruz de Penitência ou Martírio - Simboliza o triunfo de Jesus Cristo sobre a morte e traz todos os objetos que revelam sua penitência e seu sofrimento.

Disponível em:<https://emfrol1.wixsite.com/ourobranco/histricos>.

Acesso: 31/05/2022

Diamantina (MG) a 488 quilômetros.


03/01/2017

8º dia

Ouro Branco (MG) a Ouro Preto (MG)

32 km

script do dia: distância curta [30 quilômetros], subidas longas, inclinadas e trecho 100% asfaltado, percorrido na Rodovia Estadual MG -129.

A Estrada corta a RPPN Serra de Ouro Branco (Reserva Particular do Patrimônio Natural) e a altimetria é muito acidentada, à semelhança de uma Montanha Russa gigante.

Na saída de Ouro Branco (MG) (assim chamavam o ouro ainda não bem formado), um aclive de três quilômetros me levou a 1.560 m de altitude. Depois, descida animal me fez descer a 1.100 m. 

E assim, nesse incessante sobe e desce, sempre paralelamente à Serra do Itatiaia, um subgrupo da Serra do Espinhaço, percorri o trajeto entre Ouro Branco (MG) e Ouro Preto (MG) - 74.821 habitantes. Censo IBGE - 2022.

Estrada Real trecho Ouro Branco (MG) a Ouro Preto (MG). Fotos: Fernando Mendes.

Serra do Itatiaia. Subgrupo do Espinhaço.

Estrada Real trecho Ouro Branco (MG) a Ouro Preto (MG). Fotos: Fernando Mendes. 

Estrada Real trecho Ouro Branco (MG) a Ouro Preto (MG). 

Rodovia MG - 129. Fotos: Fernando Mendes.

Cheguei à antiga Vila Rica (*) a tempo de retirar, no Centro de Informações Turísticas, o certificado de execução do Caminho Novo da Estrada Real e degustar uma chávena de café expresso. 

Diamantina (MG) a 456 quilômetros.

(*) Vila Rica de Albuquerque e depois Vila Rica de Nossa Senhora do Pilar de Ouro Preto. Em 1823, após a Independência do Brasil, Vila Rica, fundada em 1711, recebeu o título de Imperial Cidade, conferido por S.M Imperial D. Pedro I do Brasil, tornando-se oficialmente capital da então província das Minas Gerais e passando a ser designada como Imperial Cidade de Ouro Preto.

Em 1897, a mudança da capital para Belo Horizonte (MG) provocou um esvaziamento da cidade (aproximadamente 45 % da população), inibindo o crescimento urbano nas décadas seguintes, fato que contribuiu para preservação do seu Centro Histórico.

Disponível em:<https://www.ouropreto.mg.gov.br/historia>.
Acesso: 1º/03/2017 (com adaptações).

A descrição da chegada a Vila Rica e de seu cotidiano é baseada em um texto do comerciante inglês John Luccock, que a visitou em 1817. Ei-la.

 Ao ver o povoado [Vila Rica], um viajante da época [do Ciclo do Ouro] achou-o "muito sedutor", mas não deixou de notar que ele [o povoado] parecia estar encravado em um dos piores lugares da Terra para se erguer uma cidade.

De fato, aquela sequência de morros na colossal Serra do Espinhaço, a 1.100 metros de altitude, não era o melhor sítio para assentar um núcleo urbano com mais de 2 mil casas grudadas umas às outras, uma dúzia de igrejas corpulentas e alguns prédios públicos de grande porte. O "amor pelo ouro", contudo, venceu a lógica e fez florescer no interior do Brasil um centro urbano vigoroso.

 A vila [Rica] abrigava [1817] 79 mil "almas" (excluindo-se os indígenas), o equivalente a 2,3% da população da colônia. 

 Apesar de estar a quatrocentos quilômetros do porto marítimo mais próximo, em uma área de difícil acesso e coalhada de bandidos violentos e índios bravios, a comarca de Vila Rica tinha mais habitantes que as cidades do Rio de Janeiro (39 mil) e Salvador (menos de 46 mil). Era quase duas vezes e meia maior que Nova York (33 mil habitantes), a cidade mais populosa dos Estados Unidos. 

E, com menos de cem anos de existência, tinha o equivalente a 15% dos moradores de Paris, cuja história somava, por baixo, vinte séculos.

Fonte: O Tiradentes : Uma biografia de Joaquim José da Silva Xavier / Lucas Figueiredo - 1ª ed. - São Paulo : Companhia das Letras, 2018, pp. 33-34. 

Chegada a Ouro Preto (MG). Foto: Fernando Mendes. 

Diamantina (MG) a 456 quilômetros. 

 

Praça Tiradentes. Ouro Preto (MG). 

Na Praça do Mercado, atual Praça Tiradentes em Ouro Preto (MG), funcionava um dos principais mercados de escravos do Brasil, onde homens e mulheres jovens, juntamente com crianças, eram os produtos cobiçados. 

Dependendo do biótipo - indivíduos que apresentam o mesmo genótipo - e das habilidades, chegavam a ser disputados numa espécie de leilão a céu aberto.

Fonte: Ibañez, Alexandre. Marília de Dirceu : a musa, a inconfidência e a vida privada em Ouro Preto no século XVIII / Alexandre Ibañez, Staël Gontijo - Belo Horizonte : Gutenberg Editora, 2012, p. 51.

Museu da Inconfidência. Ouro Preto (MG).

 

Museu da Inconfidência. Ouro Preto (MG). 

 

Igreja do Carmo. Ouro Preto (MG). 

 

Ouro Preto (MG). 

Ouro Preto (MG). Rua Cláudio Manoel da Costa.

 

Ouro Preto (MG). 

 

Frontispício da Igreja do Carmo. Ouro Preto (MG). 

 

Pico do Itacolomi, o Farol dos Bandeirantes. Ouro Preto (MG). 

 

Igreja São Francisco de Assis. Ouro Preto (MG). 

 

Ouro Preto (MG). Fotos: Fernando Mendes.


2ª ETAPA

CAMINHO DO SABARABUÇU - 202 km

OURO PRETO (MG) A COCAIS (MG)

DATA

CAMINHO DO SABARABUÇU

KM /DIA

TOTAL/ DIA

04/01/2017

OURO PRETO (MG) A ACURUÍ (MG)

59 km

59 km

59 km

05/01/2017

ACURUÍ (MG) A RIO ACIMA (MG)

24 km

59 km

118 km

RIO ACIMA (MG) A HONÓRIO BICALHO (MG)

10 km

HONÓRIO BICALHO (MG) A RAPOSOS (MG)

13 km

RAPOSOS (MG) a SABARÁ (MG)

12 km

06/01/2017

SABARÁ (MG) A CAETÉ (MG)

44 km

44 km

162 km

07/01/2017

DESCANSO EM CAETÉ (MG)

08/01/2017

CAETÉ (MG) A COCAIS (MG)

40 km

40 km

202 km


04/01/2017

9° dia

Ouro Preto (MG) a São Bartolomeu (MG)

20 km

59 km

São Bartolomeu (MG) a Glaura (MG)

15 km

Glaura (MG) a Acuruí (MG)

24 km

Dia de muito calor, subidas honestas, sombreamento à larga pelo caminho e paisagens lindas marcaram os 59 quilômetros da etapa Ouro Preto (MG) a Acuruí (MG).

Até São Bartolomeu, distrito de Ouro Preto (MG), a estrada empina fortemente para cima nos primeiros quilômetros e a Antiga Vila Rica foi ficando pequena, lá embaixo, dentro de um buraco.

Vencida essa parede, caminho é largo e com  muitas sombras. Esse trecho termina no simpático e bucólico distrito de São Bartolomeu, "acanhada joia barroca do século XVIII”. (*)

(*) Instituto Estrada Real em www.institutoestradareal.com.br/cidades/sao-bartolomeu/143>.Acesso: 1º/03/2017.

Estrada Real trecho Ouro Preto (MG) a Acuruí (MG). Foto: Fernando Mendes. 

Igreja Matriz de Nossa Senhora das Mercês em São Bartolomeu (MG). 

Estrada Real trecho Ouro Preto (MG) a Acuruí (MG). Foto: Fernando Mendes. 

Igreja Matriz de Nossa Senhora das Mercês em São Bartolomeu (MG). 

Estrada Real trecho Ouro Preto (MG) a Acuruí (MG). Foto: Fernando Mendes.

Nessa acanhada joia, o tempo parece ter preguiça de passar. A Igreja Matriz de Nossa Senhora das Mercês é uma das mais antigas e imponentes de Minas Gerais.

Lugar modesto e ruas com calçamento de pedras. Gente simples e receptiva, sempre fazendo perguntas sobre a minha viagem.

A fartura de frutas na cidade induziu seus moradores à fabricação de doces caseiros, tradição reconhecida nas adjacências. O ponto alto é a Festa da Goiaba (doce mais popular da localidade).

São Bartolomeu (MG).

Estrada Real trecho Ouro Preto (MG) a Acuruí (MG). Foto: Fernando Mendes.

Tomei delicioso açaí e parti rumo a Glaura, antiga Freguesia Santo Antônio da Casa Branca do Ouro Preto, outro Distrito (*) de Ouro Preto, igualmente simpático e bucólico, com ruas calcadas e casas bem arrumadas.

Na saída [de Glaura] para Acuruí, distrito de Itabirito (MG), uma chuva forte veio amenizar o calor. E veio com força, muitos raios, trovões e granizo. Plec, plec e plec no capacete. Primeira chuva do ano. Durou pouco, mas foi suficiente para refrescar e levar os restos de 2016.


(*) DISTRITOS DE OURO PRETO (MG).


Amarantina | Antônio Pereira | Cachoeira do Campo | Engenheiro Correia | Glaura | Lavras Novas | Miguel Burnier | Rodrigo Silva | Santa Rita de Ouro Preto | Santo Antônio do Leite | Santo Antônio do Salto | São Bartolomeu.

Disponível em:<https://pt.wikipedia.org/wiki/Portal: Minas_Gerais>

Acesso: 1º/03/2017.

 

Estrada Real trecho Ouro Preto (MG) a Acuruí (MG).

Igreja Matriz de Santo Antônio das Garças Brancas em Glaura (MG).

Foto: Fernando Mendes.

Estrada Real trecho Ouro Preto (MG) a Acuruí (MG).

Igreja Matriz de Santo Antônio das Garças Brancas em Glaura (MG).

Foto: Fernando Mendes.

Uma ascensão absurda de 200 metros, nos quatro quilômetros finais para chegar ao distrito de Itabirito, nomeado de Acuruí (MG) - 500 habitantes. Carece de fonte, deu-me a dimensão do que é o Caminho do Sabarabuçu. As paisagens que vi compensaram o esforço. Acuruí, em tupi-guarani, significa "rio de pedras”.

Diamantina (MG) a 406 quilômetros. 

05/01/2017

10° dia

Acuruí (MG) a Rio Acima (MG)

25 km

59 km

Honório Bicalho (MG) a Raposos (MG)

10 km

Raposos (MG) a Sabará (MG)

24 km


Dia muito, muito puxado [59 quilômetros]. Na 1ª etapa, foram 20 quilômetros muito acidentados entre Acuruí (MG) e Rio Acima (MG) (10.261 habitantes. Censo IBGE 2022).

Rio Acima (MG). 

Estrada Real trecho Acuruí (MG) a Sabará (MG). Foto: Fernando Mendes.

Após o 3°morro que subi, parei de contá-los e passei a bebericar as belezas do caminho. Nada de eucaliptos. Mata nativa preservada, garantia de frondosas sombras necessárias num dia tão quente.

Almocei em Rio Acima (MG), carimbei o passaporte e encarei o trecho [13 quilômetros], até Honório Bicalho, distrito de Nova Lima (MG) - 111.697 habitantes. Censo IBGE 2022 - localidade muito carente, com casinhas inacabadas e tijolos expostos, dando a dimensão do ocorrido: a grana não foi suficiente para o acabamento. Assim estão as casas, dispostas ao longo da única rua asfaltada.

Inicialmente, o distrito de Honório Bicalho se chamava Faria Garcez. O nome atual deriva de uma estação ferroviária construída em 1890, cujo nome, Honório Bicalho, foi uma homenagem ao engenheiro que participou da construção de obras públicas em portos e ferrovias brasileiras, sendo chefe na construção da Estrada de Ferro D. Pedro II.

Disponível em: https://www.caminhoreligiosodaestradareal.com/honorio-bicalho-mg/. Acesso: 01/03/2017.

Fui obrigado a seguir para Raposos (MG) - (16.279 habitantes. Censo IBGE 2022) - pela Rodovia Estadual MG - 030 em virtude de aquele trecho da Estrada Real, que liga Honório Bicalho (MG) a Raposos (MG), estar interditado. Apenas 10 quilômetros. Fácil.

Na última etapa do dia - Raposos a Sabará - a Estrada Real corre paralela ao Rio das Velhas e sobre antigo leito ferroviário da falecida RFFSA. São 12 quilômetros de total planura. Nada mal depois de um dia de subidas insanas, aquela que o ciclista chora e a mãe não vê.

Diamantina (MG) a 347 quilômetros.

Estrada Real trecho Acuruí (MG) a Sabará (MG).

Antigo leito ferroviário paralelo ao Rio das Velhas. Foto: Fernando Mendes. 


Estrada Real trecho Acuruí (MG) a Sabará (MG).

Antigo leito ferroviário paralelo ao Rio das Velhas. Foto: Fernando Mendes.


06/01/2017

11º dia

Sabará (MG) a Caeté (MG)

44 km

Antes de partir para Caeté (MG), uma visita à bicicletaria em Sabará (MG) - 129.380 habitantes. Censo IBGE 2022 - para substituir as pastilhas dos freios dianteiro e traseiro.

Encerrada a manutenção na bike, carimbar o passaporte no Hotel Vila Real. Lá chegando, fui seduzido por delicioso aroma de feijoada. Eram 12h. Decidi partir somente após degustar essa iguaria. Sábia decisão. Melhor sair bem alimentado.

O trecho entre Sabará (MG) e Morro Vermelho [18 quilômetros], Distrito de Caeté (MG), é deslumbrante. Altimetria bem plana em estrada de terra larga, igual à Ponte Rio - Niterói.

Solo bem compactado e muita sombra. Em vários trechos, a Estrada Real passa sob enormes pontes da Ferrovia da Vale do Rio Doce.

 

Ponte da Ferrovia da Ferrovia da Vale do Rio Doce. Foto: Fernando Mendes.

 

Estrada Real trecho Sabará (MG) a Caeté (MG).

Ponte da Ferrovia da Estrada de Ferro Vale do Rio Doce. Foto: Fernando Mendes.

Na chegada a Morro Vermelho, o destaque fica por conta da Igreja de Nossa Senhora de Nazaré (século XVIII).

Um temporal se anunciou, mas ficou na ameaça. A partir daquele ponto, a Estrada Real empina forte para cima. Passei a pedalar em altitudes que variam de 1.100 a 1.200 m.

Abaixo, os trilhos da Ferrovia da Vale serpenteiam o Espinhaço, à semelhança de um ferromodelismo.

Igreja de Nossa Senhora de Nazaré (século XVIII). Fotos: Fernando Mendes.

Igreja de Nossa Senhora de Nazaré (século XVIII). 

Fotos: Fernando Mendes.

Não tardou para Caeté (MG) - 38.776 habitantes. Censo IBGE 2022 - aparecer dentro de um enorme buraco, como é a localização de muitas cidades ao longo da Estrada Real.

Cheguei ao centro às 18h, quando os sinos da Igreja Matriz de Bom Sucesso (século XVIII) choravam no ar a hora do Ângelus.

Igreja Matriz de Bom Sucesso (século XVIII) em Caeté (MG).

Foto: Fernando Mendes.

Segundo dia de Lua Crescente, o símbolo das bandeiras de alguns países muçulmanos.

A cada etapa cumprida da viagem, a certeza de que está sendo a mais maravilhosa das jornadas que fiz pedalando pela Estrada Real e seus quatro caminhos.

Diamantina (MG) a 303 quilômetros.


07/01/2017. Não rolou pedal.

12° dia

Ao acordar, senti que o corpo pedia repouso.



08/01/2017

13º dia

Caeté (MG) a Cocais (MG)

40 km

Após a saída de Caeté (MG) fui contornando a Serra da Piedade até o extremo leste, quando o caminho tomou o rumo de Cocais, Distrito de Barão de Cocais (MG) e a Piedade foi ficando para trás, diminuindo de tamanho, vista pelo retrovisor da bike.

A transparência e luminosidade daquele dia, permitiram divisar a Piedade com suas magníficas rochas de formações ferríferas e pertencentes ao subgrupo Minas/Itabirito.

Bandos de papagaios e maritacas voavam sobre mim, alegrando a tórrida manhã com seus trinos (gorjeios) e evoluções.

Estrada Real entre Caeté (MG) e Cocais (MG).

Ao fundo, a Serra da Piedade. Foto: Fernando Mendes.

Estrada Real entre Caeté (MG) e Cocais (MG). Foto: Fernando Mendes. 

Estrada Real entre Caeté (MG) e Cocais (MG). Foto: Fernando Mendes.

Estrada Real entre Caeté (MG) e Cocais (MG). Foto: Fernando Mendes.


A origem e o significado da palavra Caeté provem da língua indígena e quer dizer: - mata virgem, mato verdadeiro, segundo Teodoro Sampaio, citado por Nelson de Sena em seu Anuário Histórico e Cartográfico de Minas Gerais, edição de 1909, página 282.

Quando o Sol atingiu o Zênite, ou seja, ao meio-dia, alcancei Antônio dos Santos, Distrito de Caeté (MG). Parada para almoço. Fazia muito calor. Segui os 20 quilômetros finais, boa parte deles, pedalando numa área aberta com pouca sombra e muito silêncio. Um cenário para contemplação e reverências.

Ironicamente, a parte mais difícil do trajeto - acredite se quiser - foi um descenso com  200 metros de extensão. Impossível descer aquela ladeira nas condições descritas e montado na bike.

Isto porque têm muitas valas feitas pelo escoamento superficial das águas das chuvas, além de pedras soltas, que dificultam o equilíbrio. O enredo: morro abaixo, desembarcado da bike. Nem sempre as subidas são as vilãs ao longo dos trajetos.

Chegada a Cocais, Distrito de Barão de Cocais (MG). 

Fotos: Fernando Mendes.

Cocais (MG). Foto: Fernando Mendes.

Cheguei a Cocais (MG) - 2.803 habitantes. Censo IBGE 2010 - às 17h. Concluí o Caminho do Sabarabuçu, 2ª etapa das três que planejei percorrer pela Estrada Real. Difícil afirmar qual delas [etapas] é a mais bela.

Antes de deitar-me, lembrei-me da área de reflorestamento de eucaliptos a atravessar no dia seguinte. Num átimo (momento, instante), veio-me à memória os seringais de Fordlândia (PA) [3] [4], a cidade americana edificada na margem direita do Rio Tapajós, na Amazônia Brasileira, no Estado do Pará, quase à latitude do Equador.

 [3] A história de Fordlândia (PA) começou em 1927, quando Henry Ford (1863 -1947) adquiriu um terreno de quase 15.000 km², o dobro da área do atual Distrito Federal, na margem direita do Rio Tapajós, no Estado do Pará.

 Anos antes, o departamento de comércio dos Estados Unidos da América (EUA) havia feito um estudo de viabilidade de cultivo de seringueiras no Brasil com resultados positivos.

 Sabendo disso, o produtor rural Jorge Dumont Villares, conseguiu com o governador [do Pará] Dionísio Bentes a concessão de uma grande porção de terra para cultivar seringueiras. Tudo de graça.

 Quando soube que Henry Ford procurava uma região para sua cidade no Brasil, Villares ofereceu suas terras a ele por um valor equivalente a quase R$ 3 milhões atuais.

No ano seguinte [1928], ele [Ford] enviou suprimentos e funcionários para criar uma típica cidade americana no local. Em pouco tempo ficou pronta, com escolas, eletricidade, saneamento, clube social/recreativo e um hospital (no qual foi feito o primeiro transplante de pele no Brasil).

Disponível em:<www.flatout.com.br/fordlandia-a-historia-da-cidade-utopica-que-henry-ford-construiu-na-amazonia Acesso: 31/03/2017.



[4] Ao fundar Fordlândia (PA), em 1928, no coração da Floresta Amazônica, na margem direita do Rio Tapajós, Henry Ford, o magnata do automóvel, plantou seringueiras simetricamente, a exemplo das plantações de eucaliptos de hoje, na tentativa de aumentar a produtividade de borracha, que alimentaria a incessante demanda dessa matéria-prima em sua fábrica de automóveis em Michigan (EUA). 

No entanto, uma infestação nos seringais brasileiros, desconhecida nos seringais britânicos do Sudeste Asiático, dizimou as seringueiras e sepultou a aventura americana nos Trópicos, na cidade [Fordlândia - PA] que Henry Ford edificou quase à latitude do Equador. 

Em 1945, os americanos finalmente fizeram as malas e foram para casa, deixando um Elefante Branco para trás.

Embora nunca tenha ido a Fordlândia, Henry Ford investiu uma fortuna em seu sonho e não logrou o êxito esperado.

(Nota do Autor).

 

A Cidade Fantasma de Fordlândia (PA).

Fordlândia foto [s.d] color.

Disponível em:< https://misteriosdomundo.org/conheca-a-historia-da-fordlandia-o-utopico-sonho-de-henry-ford-no-brasil/>. Acesso: 1º/03/2017.

Diamantina (MG) a 263 quilômetros.


3ª ETAPA

CAMINHO DOS DIAMANTES - 263 km

COCAIS (MG) A DIAMANTINA (MG)

DATA

TRECHOS

KM

TOTAL DIA

09/01/2017

Cocais (MG) a Bom Jesus do Amparo (MG)

26

26

26

10/01/2017

Bom Jesus do Amparo (MG) a Ipoema (MG)

13

43

69

Ipoema (MG) a Nossa Senhora do Carmo (MG)

14

Nossa Sr.ª do Carmo (MG) a Itambé do Mato Dentro (MG)

16

11/01/2017

Itambé do Mato Dentro (MG) a Morro do Pilar (MG)

34

103

12/01/2017

Morro do Pilar (MG) a Conceição do Mato Dentro (MG)

25

128

13/01/2017

Conceição do Mato Dentro (MG) a Itapanhoacanga (MG)

47

175

14/01/2017

Itapanhoacanga (MG) ao Serro (MG)

26

201

15/01/2017

Serro (MG) a São Gonçalo do Rio das Pedras (MG)

29

230

16/01/2017

São Gonçalo do Rio das Pedras (MG) a Diamantina (MG)

33

263


09/01/2017

14º dia

Cocais (MG) a Bom Jesus do Amparo (MG)

26 km

Acordei tarde, pois o trecho daquele dia foi diminuto, com parcos 26 quilômetros, metade atravessando magnífica área de reflorestamento de eucaliptos.

Ao terminar a travessia [dos eucaliptos], a Estrada Real desemboca na Rodovia BR-262, que liga Belo Horizonte (MG) a Vitória (ES).

Almocei num posto BR, atravessei a 262 e continuei pela Estrada Real - leito natural - até Bom Jesus do Amparo (MG) - 5.631 habitantes. Censo IBGE 2022).

Encontrei com meu grande amigo [e Xará] Fernando Gonçalves. A conversa, como de hábito, fluiu fácil. A bike foi lavada e lubrificada. 

Diamantina (MG) a 237 quilômetros.

Estrada Real trecho Cocais (MG) a Bom Jesus do Amparo (MG).

Foto: Fernando Mendes.

Estrada Real trecho Cocais (MG) a Bom Jesus do Amparo (MG).

Foto: Fernando Mendes.

Matriz de Bom Jesus do Amparo (MG). 

Foto: Fernando Mendes.

Meu amigo e Xará, Fernando Gonçalves. 

Foto: Fernando Mendes.


Bom Jesus do Amparo-MG, 09/01/2017.


Revendo meu amigo e Xará Fernando Mendes.


Nos últimos dias, tive contato com muitos viajantes e é ótimo ter esse movimento novamente na estrada. Depois de dois anos e meio, a bicicleta e a Estrada Real nos trouxeram o amigo ciclista Fernando Mendes. Geógrafo, carioca, torcedor do Fluminense, nosso amigo da biblioteca e meu xará!

Esse pedala e conhece muitos lugares! Digo, conhece a realidade muito mais que os dados dos livros e pesquisas. Suas férias têm sempre um rolezinho de bike. Nesta cicloviagem, o roteiro está bem diferente.

Com o passaporte em mão, ele começou a percorrer o Caminho Novo, partindo de Petrópolis (RJ) e chegou a Ouro Preto (MG).

Na segunda etapa, pedalou de Glaura, distrito de Ouro Preto (MG), a Cocais, distrito de Barão de Cocais (MG), concluindo o Caminho do Sabarabuçu (193 km), que vai margeando a majestosa Serra da Piedade, na região de Caeté (MG). Que lugar lindo, não é mesmo?

Como ele havia feito o Caminho dos Diamantes, de Diamantina (MG) a Ouro Preto (MG), duas vezes, iniciou a terceira etapa no Distrito de Cocais (MG) e nos deu a honra pousando novamente em Bom Jesus do Amparo (MG), a "terra sagrada, terno querido, berço natal" do músico e violonista Mozart Bicalho.

Como dizem os versos do hino oficial da cidade composição do próprio autor.

É o primeiro ciclista que retorna depois de concluir os quatro caminhos da nossa Estrada Real. Bem-vindo! Encontramo-nos em frente à Matriz, nossa referência e cartão postal do lugar.

Continua o mesmo, cheio de histórias e experiências reais para compartilhar com a gente.

Demos uma passada na pequena Bike Dias, colocando a conversa em dia, tive acesso ao certificado especial de conclusão dos caminhos reais (que é muito bonito), fizemos check-in no KR Hotel, localizado praça central, e nos sentamos na lanchonete Café do Dia, para tomarmos uma geladíssima cerveja, pois a tarde quente e a ocasião mereciam.

Um brinde ao seu entusiasmo e seus pedais Fernando!!! Você realmente é um dos caras!

Mais tarde, ele deixou sua mensagem e nome registrados no Livro dos Viajantes da ER n° 06, carimbei seu passaporte e lhe entreguei uma mensagem para levar para o Norte. Gratidão sempre!

Parecia que nossa conversa não tinha um tempo de dois anos. Muito legal! No dia seguinte, registramos mais fotos na praça e nos despedimos como sempre, de forma cordial, deixando um pouco dele e levando um pouco daqui.

O pouso do dia seria - como de fato foi - em Itambé do Mato Dentro (MG) e havia sol e calor, muitos morros e pedaladas para vencer, totalizando, daqui a alguns dias, a marca de 894 quilômetros, ao chegar a Diamantina (MG).

"Viajar pela Estrada Real é prova cabal de FELICIDADE!" Palavras de um ciclista que tenho a honra de conhecer.

Ótima viagem, amigo! Obrigado por tudo! Abraço Real.

Fernando Gonçalves.

Diamantina (MG) a 237 quilômetros.


10/01/2017

15º dia

Bom Jesus do Amparo (MG)

a Itambé do Mato Dentro (MG)

43 km

Os primeiros 13 quilômetros até Ipoema (MG) - distrito de Itabira (MG) - foram feitos em asfalto novo e altimetria com muitos sobe e desce.

Almocei em Ipoema (MG) - 2.746 habitantes, sendo 1.374 homens e 1.372 mulheres. Censo IBGE 2010 -, distrito de Itabira (MG).

Fiz a química digestiva revendo a Igreja de Nossa Senhora da Conceição. O Museu do Tropeiro, infelizmente, estava fechado, pois era horário de almoço.

Estrada Real entre Bom Jesus do Amparo (MG) e Itambé do Mato Dentro (MG). Foto: Fernando Mendes.

Museu do Tropeiro em Ipoema (MG). 

Estrada Real entre Bom Jesus do Amparo (MG) e Itambé do Mato Dentro (MG). Foto: Fernando Mendes.

Igreja de Nossa Senhora da Conceição. 

Estrada Real entre Bom Jesus do Amparo (MG) e Itambé do Mato Dentro (MG). Foto: Fernando Mendes.

O trecho a seguir, com 15 quilômetros até o Distrito de Senhora do Carmo, pertencente a Itabira (MG), foi percorrido em leito natural, com subidas generosas e calor egípcio. Em Senhora do Carmo, parada para degustar deliciosos pastéis de queijo. Não tinha Coca; encarei guaraná genérico.

Qual não foi a minha surpresa quando a funcionária da lanchonete me informou que a etapa entre Senhora do Carmo (MG) a Itambé do Mato Dentro (MG) - 15 quilômetros - está asfaltada. Maravilha.

Com a falta de chuvas mais robustas, os trechos em leito natural estão muito empoeirados. A última etapa do dia foi feita em asfalto novo e farto em subidas

Cheguei a Itambé do Mato Dentro (MG) - 2.142 habitantes. Censo IBGE 2022 -, depois de pedalar 43 quilômetros desde a saída de Bom Jesus do Amparo (MG), junto com a chuva [muito fraca] de fim de tarde.

A última vez que estive por essas paragens foi em junho de 2014. Naquele ano, preferi a Estrada Real à Copa do Mundo, ou melhor, ao vexaminoso 7 x 1.

Diamantina a 194 quilômetros.

Estrada Real entre Bom Jesus do Amparo (MG) e Itambé do Mato Dentro (MG).

Foto: Fernando Mendes.


11/01/2017

16º dia

Itambé do Mato Dentro (MG)

a Morro do Pilar (MG)

34 km

Atravessei 34 quilômetros sem qualquer tipo de apoio. Nem bar, nem povoados, restaurantes ou comunidades. Eis a maior dificuldade desse trecho da Estrada Real.

Na saída de Itambé do Mato Dentro (MG) um problema na fixação do alforje direito, porém solucionado rapidamente.

Estrada Real entre Itambé do Mato Dentro (MG) e Morro do Pilar (MG).

Igreja Nossa Senhora das Oliveiras. Itambé do Mato Dentro (MG).

Foto: Fernando Mendes.

Estrada Real entre Itambé do Mato Dentro (MG) e Morro do Pilar (MG).

Foto: Fernando Mendes.

Após o fim do calçamento e início do trecho em leito natural, veio uma subida de respeito, com 10 quilômetros de extensão e poucos intervalos planos. Essa é a tônica da maioria das cidades ao longo da Estrada Real.

Foram nascendo sempre na parte baixa do relevo para facilitar a captação de água. Na chegada, muitas descidas; na saída, subidas honestas. E mantendo a "tradição”, na saída de Itambé do Mato Dentro (MG), tome subida pela proa.

Após o décimo quilômetro, a Estrada Real passa por enormes rochas sedimentares dispostas de forma aleatória às margens do caminho. São imponentes e belas. Daí a origem do nome Itambé - pedra afiada na língua tupi.

Estrada Real entre Itambé do Mato Dentro (MG) e Morro do Pilar (MG).

Foto: Fernando Mendes.

Estrada Real entre Itambé do Mato Dentro (MG) e Morro do Pilar (MG).

Foto: Fernando Mendes.

Do alto da Serra, a 900 m de altitude, senti o mundo aos meus pés. Que paisagem maravilhosa. Ao fundo, o colosso e a imponência das formações da Serra do Cipó. Subi numa das rochas e, num "estacionário" perfeito, fiquei a ver esse mar de montanhas.

Desse ponto em diante, a Estrada Real inclina fortemente para baixo, dando um refresco para pernas e pulmões. E desce, desce até chegar ao Vale do Rio do Peixe, com piscinas naturais e águas cristalinas. 

Estrada Real entre Itambé do Mato Dentro (MG) e Morro do Pilar (MG).

Foto: Fernando Mendes.

Estrada Real entre Itambé do Mato Dentro (MG) e Morro do Pilar (MG).

Foto: Fernando Mendes.

Tamar - nome hebreu das palmeiras - introduzidas na Estrada Real entre Itambé do Mato Dentro (MG) e Morro do Pilar (MG). Foto: Fernando Mendes.

Rio do Peixe.

Estrada Real entre Itambé do Mato Dentro (MG) e Morro do Pilar (MG).

Foto: Fernando Mendes.

Cheguei à pacata Morro do Pilar (MG) - 3.133 habitantes. Censo IBGE 2022 - às 18h, na Hora do Ângelus e com chuva se avizinhando.

A Igreja Matriz de Nossa Senhora do Pilar não tem estilo próprio, apesar de a cidade ter sido importante ponto de apoio às tropas que seguiam para Paraty, levando, em alforjes presos às mulas, o ouro extraído em Vila Rica, atual Ouro Preto (MG).

Morro do Pilar (MG).

Igreja Nossa Senhora do Pilar. Foto: Fernando Mendes.

Morro do Pilar (MG).

Igreja Nossa Senhora do Pilar. Foto: Fernando Mendes.

O arraial (Gaspar Soares) que deu origem à cidade surgiu no alto de um morro, onde o bandeirante paulista Gaspar Soares encontrou ouro, em 1701. Ali, construiu uma capela dedicada à Nossa Senhora do Pilar.

Há registros de um desmoronamento em 1743, que teria matado 18 escravos e interrompido as atividades mineradoras.

 Morro do Pilar (MG) abrigou o primeiro alto-forno siderúrgico do Brasil, na Fábrica de Ferro Gusa do Brasil - a Real Fábrica de Ferro de Morro do Pilar - que em 1814 conseguiu fazer a primeira corrida de ferro no alto forno. 

A pioneira fábrica funcionou, em regime de produção, mais ou menos regular, de 1814 até cerca de 1830, época em que encerrou suas atividades, de acordo com Carneiro de Mendonça em seu livro "O Intendente Câmara".

Pelos mais variados interesses, a produção de ferro gusa foi transferida para a vizinha Itabira (MG), terra natal do poeta Carlos Drummond de Andrade. E assim, Morro do Pilar (MG) parou no tempo e mantém um ar bucólico e preguiçoso até hoje. Hospedei-me na Pousada Indaiá. Recomendo.

Diamantina (MG) a 160 quilômetros.


12/01/2017

17º dia

Morro do Pilar (MG)

a Conceição do Mato Dentro (MG)

25 km

Apesar da pequena quilometragem do dia - 27 quilômetros -, o calor foi intenso, tanto quanto a altimetria. Sabendo que a etapa não conta com apoio, a exemplo de ontem, decidi partir após o almoço.

O passaporte foi carimbado numa loja - pasmem - que serve café expresso. Tomei 500 ml de açaí e, após, deliciosa chávena contendo preciosa iguaria à base de cafeína.

Deixei Morro do Pilar às 14h 30, sob Sol escaldante e rumei para Conceição do Mato Dentro (MG) - 23.163 habitantes. Censo IBGE 2022).

Com 15 minutos de pedal, trovoadas e vento forte. Prenúncio de chuva que, infelizmente, ficou na promessa.

O trecho é muito bonito. O Espinhaço mostra suas formações sem nenhum pudor.

Na 1/2 do caminho encontrei o Cássio, ciclista Potiguar, que estava percorrendo a Estrada Real de Diamantina (MG) a Paraty (RJ). Ficamos um tempo conversados, passei umas informações, nos despedimos e segui meu rumo.

A três quilômetros da chegada a Conceição do Mato Dentro (MG), a Estrada Real desemboca na Rodovia MG - 010, que vem de Belo Horizonte (MG) e, após descida alucinante, cheguei ao downtown local. Eram 18h 30.

Aproveitei o que restava de luz natural e fui à Igreja do Bom Jesus de Matozinhos, uma das mais belas da Estrada Real, embora não seja em estilo barroco.

Diamantina (MG) a 135 quilômetros.

Conceição do Mato Dentro (MG). 

Santuário do Senhor Bom Jesus de Matozinhos. Foto: Fernando Mendes.

Em 1931, encontrava-se em péssimo estado de conservação e foi demolida e substituída por uma construção moderna.

Edificação recente, sem ter um significado artístico - arquitetônico, o atual Santuário do Senhor Bom Jesus de Matozinhos merece menção por ser centro de romaria, que se realiza anualmente pelas festas do Jubileu, entre 14 e 24 de junho, desde os tempos coloniais.

A decisão de construir a igreja foi tomada pela irmandade em reunião no dia 14 de março de 1931.

O lançamento da pedra fundamental ocorreu em 8 de novembro do mesmo ano. O projeto é de autoria do arquiteto Mario Moreira.

As linhas arquitetônicas são bastante ecléticas, variando do mourisco ao neogótico.

A entronização da imagem do Bom Jesus no Santuário se deu a 12 de maio de 1934. 

 Disponível em:<https://pousadadagameleira.com.br/atrativos-historicos-culturais-de-conceicao-do-mato-dentro-mg/santuario-do-bom-jesus-de-matozinhos/>.

Acesso: 1º/03/2017.  

13/01/2017

18º dia

Conceição do Mato Dentro (MG)

a Itapanhoacanga (MG)

47 km

 

Na saída de Conceição do Mato Dentro (MG) choveu muito forte. Foi uma delícia pedalar sob forte aguaceiro, que arrefeceu o calor demencial, sentido desde a saída de Petrópolis (RJ), há 18 dias, quando a aventura teve início.

Choveu até a parada para o almoço, que aconteceu no pequeno Distrito de Córregos - 432 habitantes, sendo 246 homens e 186 mulheres – Censo IBGE 2010 - fundado há 308 anos e pertencente à jurisdição de Conceição do Mato Dentro (MG).

 O ponto alto em Córregos é a Igreja Matriz de Nossa Senhora de Aparecida.

 Presume-se que a sua construção ocorreu entre os anos de 1745 e 1748.

 Porém, na fachada estão gravadas, em cima da porta, as datas de 1872 e 1994. 

 Possivelmente, é uma referência às reconstruções que ocorreram na igreja. 

 Durante muitos anos esquecido e abandonado, o órgão da Igreja Matriz de Nossa Senhora Aparecida, ressurge para nos revelar segredos, informações históricas e de organaria (fabricação, conservação ou a reparação de órgãos) até então ignoradas. 

 Disponível em:< http://cmd.mg.gov.br/distritos/corregos/igreja-matriz-de-nossa-senhora-aparecida-de-corregos>. Acesso: 1º/03/2017.

Estrada Real entre Conceição do Mato Dentro (MG) e Itapanhoacanga (MG).

Igreja Matriz de Nossa Senhora de Aparecida em Córregos (MG).

Foto: Fernando Mendes.

Fundado por bandeirantes em 1702, o Distrito de Córregos pertenceu ao Serro (MG) até o ano de 1851, passando a ser distrito de Conceição do Mato Dentro (MG).

Situado em um vale de difícil acesso, no início de sua formação, foi núcleo de mineração de ouro e diamantes.

Córregos ou Nossa Senhora Aparecida de Córregos tem seu casario tipicamente colonial, distribuído em uma pequena praça e algumas ruas. São casas térreas e poucos sobrados, simples e antigos.

Almoço simples e pedal girando, agora sem chuva, até chegar à pacata e simpática Santo Antônio do Norte - 662 habitantes, sendo 347 homens e 315 mulheres, Censo IBGE 2010 – que abriga a charmosa Igreja do Rosário.

A localidade mantém a beleza paisagística de seu sítio e preserva, em decorrência da estagnação econômica, suas características do período colonial.

Santo Antônio do Norte é distrito de Conceição do Mato Dentro (MG).

Estrada Real entre Conceição do Mato Dentro (MG) e Itapanhoacanga (MG).

Tapera (MG). Foto: Fernando Mendes. 

Estrada Real entre Conceição do Mato Dentro (MG) e Itapanhoacanga (MG).

Igreja do Rosário. Foto: Fernando Mendes.

Tapera, como também é conhecida, tem apenas uma rua. Quem ali conseguir a façanha de se perder, ganhará um prêmio.

Com o passaporte carimbado, toquei em frente, ou melhor, toquei para cima, pois a última etapa inclui subir a vertente Sul da Serra da Escadinha, [quatro quilômetros] e depois descer a vertente Norte [oito quilômetros] para chegar a recôndita (desconhecida) Itapanhoacanga, distrito de Alvorada de Minas (MG).

Quando atingi o alto da serra, senti-me no topo do mundo. Escalada que rendeu belas fotos.

Desci rapidamente e cheguei à recôndita (desconhecida)  Itapanhoacanga (MG) - 1.700 habitantes - Censo IBGE 2010, localidade com o nome mais estranho encontrado ao longo dessa imensa estrada chamada Real.

Itapanhoacanga (Ita = pedra. Tapanhuna = negra. Acanga = cabeça). Ou seja: pedra cabeça de negro. A localidade é distrito de Alvorada de Minas (MG).

 

Estrada Real entre Conceição do Mato Dentro (MG) e Itapanhoacanga (MG).

Serra da Escadinha. Fotos: Fernando Mendes.

Estrada Real entre Conceição do Mato Dentro (MG) e Itapanhoacanga (MG).

Serra da Escadinha. Fotos: Fernando Mendes.

Itapanhoacanga fica encravada em um vale muito profundo e cercada pela Serra do Espinhaço, que recebe denominações locais de Serra do São José ou Serra da Escadinha.

Ao longo do Caminho dos Diamantes – trecho compreendido entre Diamantina (MG) e Ouro Preto (MG) -, o Espinhaço recebe diversas nomenclaturas dadas pela população nativa.

Existem monumentos religiosos e ricas manifestações culturais. 

O pequeno vilarejo é símbolo da época em que esse diminuto distrito, na porção central de Minas Gerais, era o mais rico garimpo de ouro do Serro Frio (arraial que deu origem à cidade do Serro-MG).

Diamantina (MG) a 88 quilômetros.

Itapanhoacanga (MG). Igreja de São José. Foto: Fernando Mendes.

A reforma da Igreja de São José (edificação barroca construída entre 1746 e 1787) está emperrada há 17 anos. 

 Aguarda a liberação de verba. A situação é tão precária que as imagens e peças sacras foram retiradas e levadas para um local mais seguro. 

 Disponível em http://pt.slideshare.net/AndrSchetino/estrada-real-23863559>. Acesso: 1º/03/2017.


14/01/2017

19º dia

Itapanhoacanga (MG) ao Serro (MG)

26 km


Deixei Itapanhoacanga pouco antes das 11h e rumei na direção de Alvorada de Minas (MG), que teve sua ocupação com o início da mineração do ouro no Rio do Peixe, a partir de 1712.

Estrada Real entre Conceição do Mato Dentro (MG) e Itapanhoacanga (MG).

Foto: Fernando Mendes.

Estrada Real entre Conceição do Mato Dentro (MG) e Itapanhoacanga (MG).

Foto: Fernando Mendes.

Estrada Real entre Conceição do Mato Dentro (MG) e Itapanhoacanga (MG).

Igreja de Santo Antonio em Alvorada de Minas (MG). 

Em Alvorada de Minas (MG) - 4.159 habitantes. Censo IBGE 2022 - carimbei passaporte, bati uma tigela de açaí na padoca e fui encarar as subidas honestas até o (*) Serro (MG), com a Estrada Real asfaltada nesse trecho (18 quilômetros).

Cheguei ao Serro (MG) - 21.952 habitantes. Censo IBGE 2022 - no momento de um apagão duradouro.

Sem energia elétrica, a cerveja do jantar desceu quente. Mas a refeição estava uma delícia. Pouco antes da meia-noite a energia foi restabelecida. Impossível dormir sem ar-condicionado.

 (*) O nome da região, dado pelos índios, era Ivituruí (ivi = vento, turi = morro, huí = frio) na língua tupi-guarani. 

 Daí derivou Serro Frio, atual Serro (MG), uma das mais belas e antigas cidades históricas de Minas Gerais. 

  Serro é nome de queijo e queijo é sinônimo de Serro. 

 A cidade se orgulha de produzir o mais saboroso e conhecido produto mineiro: o famoso "Queijo do Serro" artesanal, tipo Minas. 

 No estado ele é conhecido também como "queijo minas" (não é curado nem frescal). 

 O motivo do diferenciado sabor, comparável aos melhores do mundo, ou ainda não está devidamente explicado, ou está guardado a sete chaves. 

Os antigos o creditavam ao capim gordura, excelente pastagem nativa da região, hoje quase desaparecida. 

 Como permaneceu a mesma qualidade, atualmente alguns apontam a composição do solo (terreno calcário e úmido) e o clima, como os responsáveis pelo delicado sabor.  

  Disponível em:<www.serro.mg.gov.br/portal/turismo/0/9/758/queijo-do-serro>. Acesso: 1º/03/2017.

Serro (MG). Fotos: Fernando Mendes.

Serro (MG). Fotos: Fernando Mendes. 

Igreja de Santa Rita. Serro (MG). Foto: Fernando Mendes.

Diamantina (MG) a 62 quilômetros.


15/01/2017

20º dia

Serro (MG)

a São Gonçalo do Rio das Pedras (MG)

29 km

A tão esperada chuva chegou e me acompanhou pelo percurso, quase todo feito em asfalto. Na saída do Serro (MG), parada para degustar açaí e tomar delicioso expresso.

Atravessei a ponte sobre o Rio do Peixe, após subida honesta de quatro quilômetros. Almocei assistindo Escolinha do Professor Raimundo, no Distrito de Três Barras, que fica às margens do Rio Jequitinhonha e abriga a charmosa Igreja de São Geraldo (*).

Diamantina (MG) a 62 quilômetros.

(*) Templo modesto, mas que se destaca entre o rarefeito casario local. 

A fachada é bastante singela, com torre única e central salientada pela cobertura em telhado de quatro águas, numa feição tipicamente mineira. 

 Embora sem nada que a distingue especialmente, a Capela de São Geraldo, comove pelo despojamento e simplicidade. Ocupa o lugar, com arquitetura tipicamente mineira. 

 Ressalta as características dos tempos coloniais, destacando-se pela simplicidade de seu contorno em tom azul, pela torre central única e por seu telhado de quatro águas com conjunto arquitetônico e natural. 

 A modesta capela de São Geraldo registra a religiosidade do povo do distrito.

Disponível em:< https://www.serro.mg.gov.br/portal/noticias/0/9/747/tres-barras>. Acesso: 1º/03/2017.

Córregos (MG).

Igreja de São Geraldo. Foto: Fernando Mendes.

A chuva apertou e logo passei por Milho Verde, também Distrito do Serro (MG) e lugar de pousadas e cachoeiras em profusão. 

Foto: Fernando Mendes.

Capela do Rosário em Milho Verde (MG). Foto: Fernando Mendes.

Essa remota localidade abriga a minúscula (*) Capela do Rosário, que ficou conhecida ao sair no encarte do LP “Caçador de Mim”, de Milton Nascimento, lançado pela Gravadora Ariola, em 1981.

(*) Capela de Nossa Senhora do Rosário de Milho Verde (MG). 

Foto: Fernando Mendes.

(*) Partindo da constatação de que há pouca documentação sobre a Capela de Nossa Senhora do Rosário de Milho Verde (MG), o autor do artigo foi surpreendido com o dado - confirmado por muitos moradores antigos da localidade - de que a construção não data do século XIX, como criaram muitos especialistas, mas sim da década de 1950. 

Essa constatação originou uma reflexão sobre a "autenticidade" do edifício, que, diferentemente de muitas construções da mesma época no interior brasileiro, não possuem absolutamente nada de "kitsch". 

Uma possível explicação para esse fato é o total isolamento em que se encontrava Milho Verde na década de 1950, não sendo servida a localidade por luz elétrica, portanto, não compartilhando das informações da indústria cultural e, por isso, com um alto grau de "imunização" em relação ao "kitsch" por ela difundido. 

 Kitsch: substantivo com origem no alemão que descreve uma coisa com mau gosto (âmbito da estética).

 Conteúdo criado para apelar ao gosto popular.

 Disponível em:

< www.serro.mg.gov.br/portal/noticias/0/9/748/Milho-Verde>.

Acesso: 1º/03/2017.

Em Milho Verde (MG) - 2 mil habitantes - carimbei passaporte na Pousada do Moraes e pedalei bem tranquilo os sete quilômetros finais, chegando, às 19h, a São Gonçalo do Rio das Pedras, distrito do Serro (MG), que conta com diminuta população de 1.479 habitantes - IBGE 2010.

Fui rever o Sr. Ademil e colocar a conversa em dia.

Sr. Ademil é proprietário da Pousada Fundo de Quintal e do empório (foto) que leva seu nome. 

Sujeito boa praça e profundo conhecedor da Estrada Real. 

A exemplo de Fernando Gonçalves - meu xará e morador em Bom Jesus do Amparo (MG) -, Sr. Ademil é outra lenda da Estrada Real.

Largo Félix Antônio. São Gonçalo do Rio das Pedras (MG).

Foto: Fernando Mendes.

Há três semanas, iniciei a jornada em Petrópolis (RJ). Sensação de ter saído ontem.

Diamantina (MG) a 32 quilômetros.

São Gonçalo do Rio das Pedras (MG).

Foto: Fernando Mendes. 

São Gonçalo do Rio das Pedras (MG).

Foto: Fernando Mendes.

Igreja Matriz São Gonçalo do Rio da Pedras (MG). 

Foto: Fernando Mendes.

Igreja Matriz São Gonçalo do Rio da Pedras (MG). 

Foto: Fernando Mendes.

Igreja Matriz São Gonçalo do Rio da Pedras (MG). 

Foto: Fernando Mendes.

São Gonçalo do Rio da Pedras (MG). 

Foto: Fernando Mendes.

São Gonçalo do Rio da Pedras (MG). 

Foto: Fernando Mendes.

Largo Félix Antônio. São Gonçalo do Rio das Pedras (MG). Foto: Fernando Mendes.

Diamantina (MG) a 32 quilômetros.


16/01/2017

21º dia

São Gonçalo do Rio das Pedras (MG)

a Diamantina (MG)

32 km

Acordei com o forte barulho da chuva, à semelhança de uma artilharia, sobre a cobertura que dá acesso [dos quartos] à sala de café da Pousada Fundo de Quintal. 

Após o café da manhã me despedi do grande amigo Ademil e zarparei rumo a Diamantina (MG), "onde nasceu JK", em 12/09/1902, 32 quilômetros à frente.

Como não sou de açúcar, ignorei o aguaceiro que desabava impiedosamente sobre a Estrada Real deixando-a enlameada e com piso deveras escorregadio.

Estrada Real trecho São Gonçalo do Rio das Pedras (MG) a Diamantina (MG).

Foto: Fernando Mendes.

Estrada Real trecho São Gonçalo do Rio das Pedras (MG) a Diamantina (MG).

Foto: Fernando Mendes.

Seguia com cautela. Passei pelo bucólico povoado do Vau, subdistrito de Diamantina (MG), quando a chuva estiou.

Daquele ponto em diante, o asfalto cobriu o leito natural do caminho histórico. “A marcha do progresso é a minha grande dor”, conforme está na canção "Mágoa de Boiadeiro", composição de Índio Vago e Nonô Basílio, imortalizada na voz de Sérgio Reis.

Na canção Poeira da Estrada, de José Camilo, um trecho que muito tem a ver com a "marcha do progresso". Ei-lo:


Estrada que era vermelha de terra

Que o progresso trouxe o asfaltado e cobriu

Estrada que hoje chama rodovia

Estrada onde um dia meu sonho seguiu

Estrada que antes era boiadeira

Estrada de poeira, de Sol, chuva e frio

Estrada ainda resta um pequeno pedaço

A poeira do laço que ainda não saiu.

A paisagem da Serra do Espinhaço é belíssima e as formações chegam à beira da Estrada Real. As subidas são fortes. Cheguei a Diamantina (MG) - 47.702 habitantes. Censo IBGE 2010 - às 14h 30.

Antes de providenciar estada no Hotel Tijuco fui ao Centro de Informações Turísticas de Diamantina (MG) (*) retirar o Certificado Estrada Real Caminho dos Diamantes.

Em seguida, dirigi-me à Igreja Matriz de Santo Antonio. Fotos e orações.

 (*) "O povoado (arraial do Tijuco - atual Diamantina (MG) - cresceu ao redor do templo, erguido em uma praça.

 Gradualmente adquiriu formato quadrangular, diferente e mais organizado que o das demais cidades históricas mineiras, em geral sinuosas e desordenadas, como se pode observar atualmente nas ladeiras de Ouro Preto (MG), Tiradentes (MG) e São João del Rei (MG)".

 Fonte: Júnia Ferreira Furtado, Chica da Silva e o contratador de diamantes: o outro lado do mito. p. 39.

Igreja Matriz de Santo Antonio em Diamantina (MG).

Fotos: Fernando Mendes.

Igreja Matriz de Santo Antonio em Diamantina (MG).

Fotos: Fernando Mendes.

CHEGUEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEIIIIIIII!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

Essa foi a mais top viagem que fiz pela Estrada Real. No quadro abaixo, minhas sete edições por esses caminhos.


MINHAS 7 EDIÇÕES PELA ESTRADA REAL (2011 a 2022) - POR ENQUANTO

Maio 2011

Diamantina (MG) a Paraty (RJ)

Outubro 2011

Serro (MG) a Itaponhaganga (MG) a Conceição do Mato Dentro (MG) à Serra do Cipó (MG) a Conceição do Mato Dentro (MG) ao Serro (MG)

Junho 2014

Conceição do Mato Dentro (MG) a São Lourenço (MG)

Janeiro 2015

 Diamantina (MG) a Conceição do Mato Dentro (MG)

Julho 2015

Ouro Preto (MG) a Paraty (RJ)

Janeiro 2017

Petrópolis (RJ) a Diamantina (MG)

Maio 2022

Paraty (RJ) a Ouro Preto (MG)

 Brasília (DF), 1º/03/2017, 452º aniversário de fundação da cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro.

 


Comentários

  1. Prezado, Xará! É sempre um prazer encontrá-lo aqui em Bom Jesus do Amparo-MG, prosear e atualizar as informações sobre as histórias, viagens e a Estrada Real. Seus relatos e fotos aqui publicados, são sempre ótimas referências para leitura e informativo para os futuros viajantes. Seu apoio nossos projetos: Livros dos Viajantes, Mais Livros para nossas Bibliotecas (iniciado pelo seu livro/presente que recebi em 2011), carimbo personalizado, cartas para os amigos da ER levadas e trazidas por vocês viajantes, o Abraço Real e o Certificado de Visita; foi e é imprescindível. Muito obrigado!!! Seja sempre bem-vindo! Abraço Real do Fernando Gonçalves, Guia de Turismo. E-mail: fernandogoncalves.tur@gmail.com

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    1. Meu caro amigo, muitíssimo grato pelas palavras e pela sua amizade. Existe grande possibilidade de entre os dias 11 e 16 de dezembro deste ano, eu passar por BJAmparo. Manterei você informado do dia de minha chegada. Forte abraço.

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    2. Olá! Disponha meu caro! Que legal saber que poderá nos visitar novamente. Obrigado pela amizade e atenção. Abraço Real

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