Serra do Cafezal. Verão 2019.
PEDALNDO PELA SERRA DO CAFEZAL
HISTÓRICO
A Serra do Cafezal é uma região serrana que faz parte do sistema Serra do Mar, localizada entre os municípios de Juquitiba, na Região Metropolitana de São Paulo e Miracatu, no Vale do Ribeira, também no Estado de São Paulo.
A serra, com altitude de 1.100 metros e extensão de 33 quilômetros, está localizada a aproximadamente 90 quilômetros ao sul da capital paulista e é dominada por imensos trechos de Mata Atlântica nativa preservada e com grande valor ambiental.
A Rodovia BR -116 cruza a serra do km 336 ao km 369. O trecho ficou famoso por seus longos engarrafamentos e acidentes fatais, quando ainda era em pista simples ou mão dupla, com intenso tráfego de veículos pesados de carga, correspondente a 60% do volume de tráfego.
Em 2007, o trecho entre São Paulo e Curitiba, conhecido como Rodovia Régis Bittencourt, foi concedida à iniciativa privada e a responsabilidade pela duplicação do trecho correspondente à Serra do Cafezal, passou a ser da concessionária Autopista Régis Bittencourt.
Após longa negociação, a liberação do projeto pelo IBAMA foi conquistada.
Entre 2010 e dezembro de 2017, a concessionária Autopista Régis Bittencourt, completou as obras de duplicação dos 33 quilômetros que compreendem a Serra do Cafezal.
A serra [do Cafezal] leva este nome em virtude de, na altura do km 348, próximo ao Restaurante Graal do Japonês, localizar-se uma colônia nipônica, composta por famílias originárias da região de Tupã, Noroeste do Estado de São Paulo.
Eles mantiveram uma serraria com o nome de Cafezal, pois na parte mais baixa daquele vale havia um pequeno cafezal, com cerca de 5.000 pés de café Caturra. Os japoneses, até então, trabalhavam com as hortas, a serraria e os cuidados com os pés de café.
O cafezal acabou dando nome ao Bairro Cafezal, pertencente ao município de Miracatu (SP), localizado no Vale do Ribeira.
Finalmente o convênio DNER/IME deu o nome de Serra do Cafezal ao lote rodoviário de 33 quilômetros, que compreendem os trechos – duplicados – de subida e descida da serra.
O INÍCIO DA EMPREITADA
No dia 9 de janeiro de 2019, embarquei em ônibus rodoviário que me
levou de Brasília (DF), onde moro, ao Terminal Rodoviário Ramos de
Azevedo, a Rodoviária Campinas (SP).
Hospedagem no Hotel Lize, próximo à rodoviária e dia passeando e explorando as cercanias do lugar. Almoço no Barinella Restaurante e Padaria e soneca que durou até a tarde dar lugar ao crepúsculo vespertino.
À noite voltei ao Barinella e degustei deliciosa pizza.
Dormi cedo para iniciar a jornada do dia seguinte, conforme tabela que se segue.
Dias |
Trechos |
km/dia |
11/01/2019 |
Campinas (SP) a Barueri (SP) |
87 |
12/01/2019 |
Barueri (SP) a Juquitiba (SP) |
70 |
13/01/2019 |
Juquitiba (SP) a Miracatu (SP) |
65 |
TOTAL |
222 |
11/01/2019 |
Campinas (SP) a Barueri (SP) |
87 km |
Às 11h 30 iniciei a jornada daquele primeiro dia pedalando pela Avenida Lix da Cunha. Rapidamente cheguei ao acesso à Rodovia Anhanguera (SP - 330), no km 98 e por ela [Anhanguera] pedalei até o km 62, onde ingressei na Rodovia dos Bandeirantes (SP - 348). Foram 36 quilômetros percorridos em 1 hora e meia. Eram 13h.
Percorri os primeiros 8 quilômetros pela Rodovia dos Bandeirantes (SP -348) e fiz a primeira parada daquele primeiro dia de viagem no Graal 56, que corresponde ao km 56 da Bandeirantes, no município de Jundiaí (SP).
Farto almoço e uma chávena de café expresso para arrematar.
Voltei à lida no pedal às 14h para cumprir 22 quilômetros até o Restaurante Frango Assado, em Caieras (SP), um dos 39 municípios que constituem a Grande São Paulo. O calor era abrasador. O GPS de pulso marcava 34°C.
Parada para reabastecer as garrafas com água, degustar umas paçocas de rolha e sorver uma deliciosa Coca-Cola.
Eram 15h 30 e faltavam 10 quilômetros para o Rodoanel Mário Covas (SP - 021), alcançado às 15h 55. Não ingressei de imediato no Rodoanel. Havia uma atração poucos quilômetros à frente - talvez uns dois: a placa indicativa na qual está assinalada a passagem do Trópico de Capricórnio, linha geográfica imaginária localizada a 23° e 27´ao sul do Equador.
Após a foto, ida ao Rei da Pamonha (uma parte aparece atrás da placa) repor água nas garrafas (pamonha não é minha praia), outro café expresso e retornei ao acesso à Rodovia SP - 21, o Rodoanel Mário Covas, para cumprir os 14 quilômetros finas daquele dia e chegar a Barueri (SP).
O trânsito estava tranquilo, o acostamento é largo e segui em
segurança. No km 7, veio o primeiro túnel e o primeiro problema: não há
acostamento no interior da galeria. Silêncio das rodas em meio a zoada feito
pelos veículos que passavam e pareciam ser engolidos por enorme baleia quando
suga, para seu estômago, pequenos crustáceos e moluscos.
Divisei (distinguir pela visão) um arremedo de calçada, bem estreita, com piso irregular e repleta de minúsculas crateras. Respirei e coloquei a bike sobre a "calçada" e fui empurrando-a lentamente. O barulho dos veículos passando era ensurdecedor.
E no ritmo de uma preguiça anestesiada fui em frente para vencer os 470 metros de extensão, que pareciam intermináveis. A poucos metros do fim, o arremedo de calçada se tornou um pouco mais largo, possibilitando subir na bike e pedalar. Mas qual não foi a minha surpresa ao perceber que a dirigibilidade [da bike] estava instável: pneu dianteiro furado. Raios, mil vezes raios!
Terminei o trecho final empurrando a bike e, na saída à luz daquele fim de tarde, numa área bastante larga e afastada da rodovia, processei a troca da câmara de ar furada por outra tirada da embalagem. Foi difícil inflar a câmara nova, pois a bomba parecia estar de mal humor. Após muitas tentativas, o pneu continuava murcho. Faltavam 7 quilômetros para o acesso a Barueri (SP). O jeito foi empurrar.
Mas às vezes Alguém, lá no alto, parece conhecer nossas dificuldades. Havia um caminhão enguiçado e, quando o motorista viu meu perrengue - descrevi rapidamente -, ele usou o compressor de ar que fica na boleia e o problema foi resolvido. Agradeci e logo estava na recepção do Hotel Ibis Tamboré fazendo o check-in. Eram 18h 30.
Jantei no restaurante do hotel, detonei algumas cervejas para relaxar e fui dormir o sono dos justos. Precisava, depois dos momentos tensos na travessia do túnel.
12/01/2019 | Barueri (SP) a Juquitiba (SP) | 70 km |
Acordei às 10h após 12 horas de sono ininterruptos e voltei ao Rodoanel às 11h. O calor àquela hora era abrasador [30°C] de acordo com meu GPS de pulso.
O Parque Jequitibá passou no meu través leste e logo estava atravessando o segundo túnel, com 650 metros de extensão e acostamento decente. Travessia sem problemas.
Não existem postos de combustíveis e paradas para lanche ou afins no Rodoanel. O que não tem remédio, remediado está.
Transpassei o terceiro túnel, com 1.730 metros de extensão e com acostamento excelente. Poucos metros após sair da galeria, abandonei o Rodoanel e ingressei na BR - 116. Estava em Embu das Artes (SP).
Parada no Auto Posto Cancun. Após 16 quilômetros desde a saída de Barueri (SP), precisava almoçar. Era meio-dia e o Sol estava na minha vertical, momento do zênite ou Sol a pino. A temperatura estava em abafados 33°C. Faltavam 54 quilômetros para Juquitiba (SP), segundo pernoite da aventura.
Alimentei-me com dignidade e voltei à lida, ingressando na BR - 116 às 13h e pedalando por sucessivos sobe e desce à semelhança de uma montanha russa.
O trânsito era pesado e, por extensão, frenético. Estava ciente dessas condições, pois passei por esse trecho diversas vezes dirigindo meu carro.
Passei pelo acesso a Itapecerica da Serra (SP) e continuei firme na pedaladas nonstop até a chegada a São Lourenço da Serra (SP). Eram 14h 30. O cronômetro do GPS devorava os dígitos e o calor estava de rachar.
Parada no Posto São Lourenço, uma pausa para refrescar.
Os 20 quilômetros finais foram penosos em virtude do calor e do traçado semelhante às corcovas de camelos. Cheguei bem a Juquitiba (SP) e em segurança.
Estada no Hotel Juquiti. Recomendo.
Quando o crepúsculo vespertino deu lugar ao manto estrelado da noite e, por extensão, ar menos quente, depois de um dia com calor demencial, saí à caça de víveres e me fartei na Pizzaria Colina.
Voltei ao Juquiti e desabei na cama. O calor do dia foi cascudo, mas o ar-condicionado do quarto arrefeceu a temperatura e adormeci antes do 6º carneirinho.
13/01/2019 | Juquitiba (SP) a Miracatu (SP) | 65 km |
E chegou o dia mais esperado da jornada: descer os 33 quilômetros, devidamente duplicados, da Serra do Cafezal .
Após a saída de Juquitiba (SP) é possível sentir como a rodovia oscila, por 10 quilômetros - entre subidas e descidas - até atingir o km 336, onde o descenso da Serra do Cafezal tem início.
Foto: Fernando Mendes.
Foto: Fernando Mendes.
Às 13h 10, parada no Graal do Japonês, almoço e viagem que segue. Terminei a descida às 16h, quando ingressei no Vale do Ribeira e sendo recepcionado por um temporal, a típica chuva de verão, que desabou sobre mim em cascata solta.
20 quilômetros à frente do final da descida, estada no Hotel do Posto o Fazendeiro, em Miracatu (SP). Cheguei empurrando a bike, pois os pneus dianteiro e traseiro esvaziaram simultaneamente.
Deixei para resolver isso depois de banhar (sensação de ter trocado de pele) e jantar com dignidade.
Fui à borracharia do posto - a chuva continuava, porém moderada - e o borracheiro disse que não remenda pneu de bike porque a prensa estragaria as câmaras de ar devido à alta temperatura do equipamento.
No dia seguinte fui - de ônibus - à área central de Miracatu (SP) comprar três câmaras de ar, pois havia ficado sem sobressalentes.
Quando voltei ao hotel a ideia era substituir as câmaras de ar e voltar pedalando, desta feita subindo os 33 quilômetros da Serra do Cafezal. Mas o desânimo bateu devido à chuva que não dava tréguas.
Embarquei num ônibus rodoviário vindo de Registro (SP) e desembarquei no Terminal Tietê às 17h.
Às 22h embarquei para minha casa em Brasília (DF), chegando às 14h doutro dia.
Essa aventura na Serra do Cafezal foi gestada por muito tempo, embora seria loucura realizá-la antes da duplicação dos seus 33 quilômetros.
Como quase tudo na vida, é preciso paciência e esperar.
Obrigado ela leitura.
Antônio Fernando Mendes - 59 anos - Professor de Geografia e Geógrafo.
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