Viagem de Bike de GUARULHOS (SP) a BETIM (MG) pela BR-381. Foram 556 km. Dez 2017
DE SÃO PAULO (SP) A BETIM (MG) |
||
DIA |
DE/PARA |
DISTÂNCIA |
26/12/2017 |
Guarulhos (SP) a Atibaia (SP) |
51 km |
27/12/2017 |
Atibaia (SP) a Cambuí (MG) |
92 km |
28/12/2017 |
Cambuí (MG) a São Gonçalo do Sapucaí
(MG) |
106 km |
29/12/2017 |
São Gonçalo do Sapucaí (MG) a Perdões
(MG) |
123 km |
30/12/2017 |
Perdões (MG) a Carmópolis (MG) |
90 km |
31/01/2017 |
Carmópolis (MG) a Betim (MG) |
94 km |
TOTAL |
556 km |
|
92,3 km/dia |
26/12/2017 |
1º dia -
Guarulhos (SP) a Atibaia (SP) |
51 km |
Cheguei ao Terminal Rodoviário do Tietê às 8h 30, vindo de Brasília
(DF), onde resido faz cinco décadas. A bike estava desmontada,
o quadro foi envelopado com plástico filme e as rodas foram acomodadas em duas
capas de napa e fechadas com zíper.
Com auxílio de um carregador, me dirigi ao ponto de táxi e esperei a chegada de um carro que acomodasse bem meus haveres (bike, rodas e dois alforjes). Um Fiat Doblo deu conta do recado.
Pedi ao motorista que me levasse ao Posto Pé Boi, localizado no km 86 da Rodovia BR – 381, em Guarulhos (SP). Bike montada e lanche na loja de conveniência do posto.
Foto: Fernando Mendes.
Às 9h 24 as pernas começaram a girar os pedais, dando início à
subida da Serra da Cantareira, com 10 quilômetros de extensão, em ascensão
moderada, até atingir o Túnel da Mata Fria que, naquele ponto, marca a divisa
municipal entre Guarulhos (SP) e Mairiporã (SP). Eram 11h 01.
Foto: Fernando Mendes.
Foto: Fernando Mendes.
Foto: Fernando Mendes.
Entre o Guarda-Corpo ou Guard Rail e a parede da
galeria, existe um espaço deveras pequeno, mas suficiente para acomodar a bike e
seguir pedalando com tranquilidade.
Após transpassar a galeria, encarei obstinada descida da Serra da Cantareira e, ao final, fiz uma parada no Graal Mairiporã. Era hora do almoço.
Alimentado com dignidade, pedalei - nonstop - os 25 quilômetros finais até Atibaia (SP), chegando ao Hotel Empresarial Panorama às 15h.
Bela soneca até o entardecer, jantar no Restaurante Thoshi Sushi e noite de sono tranquilo e prolongado.
Betim (MG) a 505 quilômetros.
27/12/2017 |
2º dia
Atibaia (SP) a Cambuí (MG) |
92 km |
Dormi além da conta e consegui sair de Atibaia (SP) às 11h. Para tirar o atraso, pedalei nonstop por 48 quilômetros até alcançar a divisa SP/MG e almoçar no Restaurante Leitão Pururuca. Precioso almoço.
Às 13 h voltei à lida no pedal em constante ascensão pela Mantiqueira,
que espreita a Rodovia Fernão Dias (BR - 381) na maior parte do trajeto.
As subidas têm pequenos intervalos com descensos e algumas retas, mas a maior parte do trajeto é ladeira acima. E o Sol de verão torrando a carcaça.
Após a duplicação da rodovia (2002), em alguns trechos, as pistas se
separam e quem sobe não vê quem desce e vice e versa. Nesses pontos, as
inclinações são fortes e longas. Quando atingi a altitude máxima daquele dia na
cota 1.100m - Atibaia (SP) fica na cota 800 m - uma descida maravilhosa, com algo em torno de 5 quilômetros, me levou à entrada
principal de Cambuí (MG). Eram 16h 57.
Foto: Fernando Mendes.
Foto: Fernando Mendes.
A estada foi no Hotel do Zé Maria, na minha simplória opinião, o melhor
da cidade de Cambuí (MG).
À noite o jantar foi na Pizzaria anexa ao hotel, caminhada pelas ruas com pouco movimento e ar bastante abafado.
Dormi cedo pensando nos 106 quilômetros do dia seguinte.
Betim (MG) a 413 quilômetros.
28/12/2017 |
3º Cambuí
(MG) a São Gonçalo do Sapucaí (MG) |
106 km |
Pedalar
pela região cortada pela Serra da Mantiqueira é garantia de sobe e desce
constantes. E naquele terceiro dia de jornada, não foi diferente.
Às 9h ingressei na Rodovia Fernão Dias (BR - 381) com traçado relativamente plano nos primeiros quilômetros até a configuração da estrada se assemelhar a uma Montanha Russa.
Às 11h 21, em Estiva (MG), passei sob a passarela utilizada por caminhantes e ciclistas que percorrem o Caminho da Fé, trajeto feito por mim em quatro ocasiões.
Foto: Fernando Mendes.
Parada no Graal Estiva (MG) para saborear uma chávena de café expresso e repor a água das garrafas que vão presas ao quadro da bike. Estava cedo para almoçar. Planejava (como de fato aconteceu) fazer a refeição em Pouso Alegre (MG), 40 quilômetros à frente, percorridos em 2 horas, graças a sucessão de descidas longas e com curvas bem abertas.
Às 13h 15 cheguei a Pouso Alegre (MG) e almocei
fartamente no Restaurante Fernandão, às margens da BR - 381, localizado no
trevo formado pelo encontro das rodovias BR - 381 e BR - 459.
Pedalei nonstop até a recôndita (desconhecida) Careaçu (MG), fazendo uma pausa no Posto Ruff. Degustei deliciosas paçocas de rolha com uma Coca-Cola bem gelada. Àquela altura da viagem, precisava de açúcar na veia para encarar os 26 quilômetros restantes até São Gonçalo do Sapucaí (MG), chegando em segurança às 17h 43.
Foto: Fernando Mendes.
Cidade limpa, ruas com asfalto novo e habitações bem conservadas
por seus proprietários. A estada não poderia ser melhor. Hospedei-me no Novo
Hotel, muito limpo, bem localizado, com decoração de bom gosto, funcionários
atenciosos e um cantinho para o café. Não precisava de mais nada naquela
estalagem.
O jantar aconteceu na Arte da Pizza, alcançada a passos, a cerca de 2 quilômetros do
Hotel Novo. Na volta à estalagem, testemunhei um céu que estendia sua
imensidão, com cores que iam do alaranjado ao rosa. Parei e fiquei a contemplar
a transição do
que restava da luz natural do dia para o azul do crepúsculo e o negro estrelado
da noite. Momento de contemplação e preces, agradecendo por aquela viagem
maravilhosa e pela família abençoada que tenho. Mesmo viajando sozinho,
não me sentia solitário.
Adormeci antes do quinto carneirinho. Sono reparador para encarar, no dia seguinte, os 123 quilômetros até Perdões (MG).
Betim (MG)
a 307 quilômetros.
29/12/2017 | 4º São
Gonçalo do Sapucaí (MG) a Perdões (MG) | 123 km |
Às 8h, após
um café da manhã dos deuses, arrumei meus haveres e, pela Avenida Tiradentes,
cheguei à BR - 381. Parei, respirei, esperei o GPS de pulso se entender com os
satélites - pura rotina - e iniciei o trecho daquele 29/12/2024, 16º aniversário do falecimento
da cantora Cássia Eller.
Nos
primeiros 25 quilômetros, a altimetria não judia muito. Os trechos são
relativamente planos, com discretos ascensos e descensos.
Às 9h 30, parada providencial para reidratação no Estação Grill - Restaurante Queijos e Doces. O churrasco estava sendo preparado e o ar continha um cheiro delicioso, mas era cedo para pensar em almoço, principalmente após farto café da manhã. Completei a água das garrafas e toquei em frente. O calor àquela hora prometia um dia com temperaturas acima dos 30°C.
Às 11h 50, após pedalar 32 quilômetros com longas subidas intervaladas por curtos trechos planos e retos, cheguei ao Restaurante Bonfante, em Três Corações (MG), a terra natal de Edison Arantes do Nascimento, o Pelé.
Às margens de BR - 381 há uma homenagem ao rei do Futebol, que eu tive o privilégio de ver jogar e minha maior emoção, ao ver esse craque em campo, aconteceu no dia 21/06/1970, ocasião na qual eu morava na Cidade do México e fui - com meu saudoso pai, minha mãe e meu irmão mais novo - assistir à final da IX Copa do Mundo, realizada no Estádio Azteca, quando Brasil goleou a Itália por 4 X 1. O Pelé fez o 1º gol e deu uma assistência monumental ao Carlos Alberto Torres (Capitão) para fazer o 4º gol e fechar o placar daquela manhã cinzenta na capital mexicana.
"Foi um dos maiores feitos futebolísticos que assisti", escreveu meu pai na capa do Jornal "El Heraldo", que ele enviou para meu irmão mais velho que estava no Brasil. Jamais esquecerei esse dia e essas palavras. Muitas saudades.
Após
esplendoroso almoço no Restaurante Bonfante, renovei o protetor solar e iniciei
a química digestiva ao longo dos 66 quilômetros faltantes até Perdões (MG).
Ao recomeçar as pedaladas, veio um longo trecho em descida, que facilitou as coisas àquela hora (12h 35). Deixei a bike, sob a ação da gravidade, me levar e não eu a levá-la. O termômetro do GPS marcava 33°C, mas o vento contra refrescou o calor sufocante.
Faltavam 23 quilômetros para a próxima parada, programada para Carmo da Cachoeira (MG), alcançada às 14h 15. Parada na Casa do Queijo. Pausa de 15 minutos para tentar arrefecer a canícula (calor) sob o ar-condicionado do empório.
Às 14h 30 parti para vencer os 27 quilômetros que me conduziram à ponte sobre o Rio Grande.
Transpassado o viaduto, parada no Graal Shopping. Eram 16h. Faltavam apenas 16 quilômetros para alcançar Perdões (MG), localidade na qual cheguei sem atropelos, embora encharcado de suor. Eram 17h.
O tempo começou a mudar bruscamente. Um vento sibilante desceu da Mantiqueira e foi dando a letra: vai chover muito essa noite. Dito e feito.
Hospedagem no Hotel Elacom, às margens da BR - 381 e a poucos passos do Rodoporto Crossville, um Restaurante envidraçado, à semelhança de um grande aquário, em formato circular no qual a maioria das empresas de ônibus, que circulam pela Fernão Dias, têm um excelente ponto de apoio.
Jantei
muito bem e voltei, sob forte aguaceiro, ao Hotel Elacom. Acordei de madrugada
com o barulho da chuva "metralhando" as costas quadradas do aparelho
de ar-condicionado do quarto. Ao menos o calor demencial dos últimos dias não
incomodaria (como de fato não incomodou) no dia seguinte.
Betim (MG) a 184 quilômetros.
30/12/2017 |
5º
Perdões (MG) a Carmópolis (MG) |
90 km |
Acordei
com a sinfonia dos pneus dos veículos que deslizavam sobre o asfalto molhado.
Lá fora, o tempo estava chuvoso e grossas camadas de nuvens (umidade) encobriam
as partes mais elevadas da Mantiqueira, não pressagiando nada de bom.
Apesar do calor ter dado uma trégua, o asfalto molhado da rodovia torna a condução de qualquer veículo vulnerável quanto às derrapagens, com trechos fartos em curvas. O perigo é iminente.
Às 8h 45 iniciei o quinto dia de jornada, com tempo chuvoso e ar bastante úmido. A cada caminhão que passava, um banho de espuma eu tomava. Mesmo vestido com casaco corta-vento, estava ensopado até os ossos.
E assim fui tocando em frente os primeiros 31 quilômetros até chegar ao Posto Ipê, em Santo Antônio do Amparo (MG). Sequer bebi água das garrafas presas ao quadro. Bebia água da chuva, que caía em profusão. Eram 10h 45.
Foto: Fernando Mendes.
Como num passe de mágica, a chuva, que caía em cascata solta,
começou a diminuir enquanto eu comia alguns pães de queijo e degustava
delicioso suco de goiaba. Tirei o casaco, bastante encharcado, troquei a blusa
molhada por outra limpa e seca e toquei em frente. Sentia frio, após quatro
dias de calor senegalês.
Para me aquecer, toquei em frente por 37 quilômetros - nonstop - até o Graal Oliveira. Parada para almoço às 12h 45. A chuva deu uma trégua, mas o asfalto continuava bastante molhado. Refeição (self service) em qualquer estabelecimento da Rede Graal custa o equivalente a um Celta ano 2005. Mas estava famélico e comi bem.
Terminada a refeição, voltei à lida no pedal. Faltavam parcos 22 quilômetros para alcançar Carmópolis de Minas (MG), trecho com boas descidas e curtas subidas, que variaram de curtas a moderadas.
Apesar da pequena quilometragem, fui devagar. O piso asfáltico estava muito escorregadio. Após muitos dias de calor, com tanta água a cair, a sujeira, um misto de poeira e óleo, ficam à superfície, dando a impressão de pedalar em trecho ensaboado.
Cheguei bem e em segurança. Eram 16h. Para alcançar o Hotel Santa Teresinha, uma subida das arábias, com inclinação de uns 9%, me fez descer da bike e empurrá-la com dignidade. Escorria muita água pelas beiradas da rua. Risco desnecessário ir pedalando.
Foi uma noite mal dormida e o jantar deixou a desejar.
Betim (MG) a 94 quilômetros.
31/12 | 6º
Carmópolis (MG) a Betim (MG) (MG) | 94 km |
Acordei por
volta das 8h e a vontade de continuar na cama foi grande. Porém, como de
hábito, prevaleceu a disciplina.
Sentindo-me
sonolento, por conta da noite mal dormida, arrumei meus haveres, tomei o café
da manhã (bem mais ou menos) e parti para Betim (MG), 94 quilômetros adiante. O
tempo estava emburrado.
Foi o dia mais cascudo da jornada por conta de duas serras a
subir: Itatiaiçu e Igarapé. Além dessas duas fortes inclinações, a chuva caía
de forma moderada e não havia previsão de melhoras no tempo.
Desci a ladeira com os tais 9% de inclinação e desembarcado da
bike. O piso estava escorregadio e a sapatilha derrapava. Ao chegar à Fernão
Dias (BR - 381), percebi um movimento frenético, afinal era o último dia do ano
de 2017. Condutores apressados e indiferentes à pista molhada, apesar de placas
indicando reduzir a velocidade nas curvas fechadas.
Por volta das 9h estava a pedalar vagarosamente encarando uma
subida forte nos primeiros 6 quilômetros até alcançar a parte mais elevada e
começar a descer por longo trecho até chegar a Itaguara (MG). Eram 11h e a
média horária estava muito baixa em virtude da longa subida na saída de
Carmópolis de Minas (MG).
Parei no Posto Alvorada da Serra e almocei para compensar o
fraco café da manhã e me preparar para a subida da Serra de Itatiaiçu.
Bem alimentado e sentindo o moral se elevar, nuvens começaram a
ser varridas, mostrando o azul do céu.
Pontualmente às 12h iniciei a subida, terminando a
"escalada" às 13h. O trecho mais cascudo tem algo em torno de uns 5
quilômetros, com ascenso contínuo, porém vencido com pedalar tranquilo e sem
pressa. Dali em diante, embora o ascenso continue, a inclinação diminuiu,
quando alcancei a divisa entre os municípios de Itatiaicu e Rio Manso, local no
qual a subida da Serra de Itatiaiçu termina. Estava na cota altimétrica de 890
metros.
Faltavam 29 quilômetros para Igarapé (MG). Trecho fácil e bem plano. Parada no Posto Transabril às 14h. Enquanto bebericava uma Coca-Cola bem gelada e saboreava algumas paçocas de rolha, ouvi um estrondo, antecipado por um flash de milésimos de segundos.
Foi uma trovoada daquelas,
cujo raio caiu bem perto do posto. Quando voltei à estrada, uma nuvem do tipo
CB (cumulonimbus),
com grande desenvolvimento vertical, espalhava-se à roda e não tardou a desabar
uma chuva com pingos grossos, como se um dique tivesse se rompido acima de
mim.
A subida da Serra de Igarapé foi debaixo de muita água, que parou
de cair quando coroei o cume, às 15h 58.
E veio uma descida contínua que me levou, por meio de intenso movimento de veículos, à entrada de Betim (MG), onde me hospedei num hotel (não me lembro o nome), logo após o trevo de acesso à BR - 262.
Jantei num restaurante muito bom, embora o nome também esqueci.
À meia-noite estava no quarto e assisti à passagem de 2017/2018
ligando para casa e matando as saudades.
No domingo 1º/01/2018, um táxi me levou à Rodoviária de BH, onde
embarquei para Brasília (DF) às 20h, chegando às 7h doutro dia.
Apesar de curta, a jornada pela Fernão Dias (BR - 381) foi muito
proveitosa. Era um desejo antigo percorrer essa rodovia com minha bike.
Não fui até BH pedalando porque o movimento e a falta de
acostamento, entre Betim (MG) e a capital mineira, me desencorajaram. Foi melhor
assim.
Antonio Fernando Mendes - 58 anos - Professor de Geografia e Geógrafo.
Brasília (DF), 1º/02/2018.
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